Título: Papa inclui mulheres na tradição de Lava-Pés
Autor: Mayrink, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2013, Vida, p. A13

Francisco quebra regra durante cerimônia religiosa com jovens detentos em Roma

O papa Francisco lavou, enxugou e beijou os pés de 12 jovens ontem à tarde no Instituto Penal para Menores de Casal dei Marmo, na periferia de Roma, em comemoração da última ceia de Jesus com os apóstolos. Embora a cerimônia do Lava-Pés tradicionalmente use apenas homens para representar o episódio bíblico, o papa incluiu pela primeira vez no grupo duas mulheres, uma italiana católica e uma sérvia muçulmana, além de outro jovem muçulmano.

Em sua primeira Missa da Ceia do Senhor como papa, Francisco retomou um costume que vem desde quando era padre, em Buenos Aires, onde sempre celebrava o Lava-Pés em prisões ou hospitais. O Instituto Penal para Menores tem 46 internos, de 14 a 21 anos, entre os quais 11 moças. Os jovens presentearam o papa com um crucifixo e um genuflexório, construídos nas oficinas do instituto, e ganharam de Francisco ovos de chocolate.

O Centro Televisivo Vaticano não transmitiu imagens da celebração, para não identificar os adolescentes, conforme determina a lei italiana. Posteriormen- te, divulgou um vídeo com as imagens do ritual, em que era possível ver o papa lavando pés de meninos e meninas de diferentes etnias.

Ao fim da cerimônia, um dos internos perguntou ao papa o porquê de ter escolhido Casal dei Marmo. "É um sentimento que veio do coração, eu senti isto", respondeu Francisco. Segundo ele, a busca foi por "aqueles que talvez me ajudarão mais a ser humilde, a ser servidor como deve ser um bispo", disse o pontífice, segundo a Rádio Vaticano.

Numa homilia curta, Francisco explicou o significado do gesto de Jesus, ao lavar os pés de seus discípulos. "É o exemplo do Senhor. Ele é o mais importante, e mesmo assim lava os pés, para que também entre nós aquele que está numa posição mais elevada esteja a serviço dos outros. Lavar os pés quer dizer: eu estou a teu serviço", afirmou. "E também nós, entre nós, não é que devamos lavar os pés todos os dias uns dos outros. Mas o que significa isso? Que devemos nos ajudar uns ao outros."

Após a cerimônia, ele se reuniu com as cerca de 150 pessoas, entre internos e funcionários, do Centro Penal, e concelebrou a missa com o cardeal vigário da diocese de Roma, Agostino Vallini, o capelão do centro, padre Caetano Greco, e o substituto da Secretaria de Estado da Santa Se, arcebispo Angelo Becciu.

Missa do Crisma. Mais cedo, por volta das 9h30 da manhã, Francisco havia celebrado na Basílica de São Pedro a Missa do Crisma, na qual são consagrados os óleos usados na administração dos sacramentos do batismo, da ordenação sacerdotal e da unção dos enfermos (conhecida como extrema unção).

Dirigindo-se aos 1.600 sacerdotes presentes, o papa refletiu sobre a missão dos padres a partir da representação do óleo na unção sacerdotal. "O óleo precioso, que unge a cabeça de Aarão, não se limita a perfumá-lo, mas se espalha e atinge as periferias. O Senhor dirá claramente que a sua unção é para os pobres, os presos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados." Depois, Francisco advertiu que o padre deixa de ser um mediador entre o homem e Deus quando se preocupa mais consigo do que com o povo. "O sacerdote que sai pouco de si mesmo, que unge pouco, perde o melhor do nosso povo. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário. Daqui deriva precisamente a insatisfação de alguns, em vez de serem pastores com o "cheiro das ovelhas", pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens."

Hoje, o papa vai presidir a Paixão do Senhor, às 17h (13I1 no Brasil), na Basílica de São Pedro. Não é missa, mas a celebração da Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão. Às 21h15 (17h15 no Brasil), presidirá a Via Sacra no Coliseu. Após a cerimônia, falará aos fiéis e dará a bênção apostólica.

REUTERS