Título: Ênfases distintas estreitam margens da política econômica
Autor: Cucolo, Eduardo ; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2013, Economia, p. B1

Depois da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), referente aos primeiros três meses de 2013, nesta quinta-feira, os analistas não chegaram a um consenso sobre a estratégia de política monetária que o Banco Central colocará em ação, a partir de agora. Não convergiram as avaliações sobre o início do novo ciclo de alta, seu nível e ritmo.

Essa maior dispersão nas interpretações das mensagens do RTI se deve não só aos múltiplos aspectos lançados pelo documento no xadrez da política de juros. Se muitos são em favor de uma alta dos juros, pelas resistentes pressões inflacionárias relatadas, outros tantos vão na direção de aguardar a definição de determinados elementos, capazes de retardar ou mesmo mostrar a desnecessidade de mexer na taxa básica de juros. Deve-se também aos ruídos produzidos pela entrevista da presidente Dilma Rousseff, na África do Sul, ao fim da cúpula dos Brics, entendida pelo mercado como um sinal de que não aceitaria aumentos da taxa básica que afetassem o crescimento, mesmo diante de índices de inflação mais elevados.

A massa de informações e análises contidas no RTI de março deste ano, de modo geral, empresta ao documento um tom mais benigno, em relação ao de dezembro de 2012. Aponta, por exemplo, sinais de retomada dos investimentos, não mencionados no calhamaço anterior, reafirma convicções na direção deflacionária da conjuntura internacional, acredita em alívio das pressões dos alimentos sobre a inflação, assim como da taxa de câmbio, e até faz uma aposta no caráter menos expansionista da política fiscal este ano.

Apesar disso, o RTI não escondeu o aumento do grau de preocupação do BC com a trajetória dos preços, em relação ao relatório de dezembro. Essa preocupação não é visível apenas pela elevação das projeções daqui até meados de 2015. Aparece também nas referências à indexação ainda existente na economia e na visão de que as expectativas se deterioram quando os preços se acomodam em níveis mais elevados. Avança ainda por questões mais conceituais, registrando sua crença no fato de que "taxas de inflação elevadas reduzem o potencial de crescimento da economia, bem como de geração de empregos e de renda."

Restringida pela dicotomia emprego-inflação, a política econômica navega num rio de águas agitadas, mas de margens estreitas. É nesse ambiente que a equipe econômica, diretamente liderada pela presidente Dilma, e o Banco Central, que dispõe de autonomia informal, mas também faz parte do governo, adotam ênfases distintas. Se a ênfase de Dilma é a manutenção do emprego, a do BC é o controle"da inflação. Ambos, de todo modo, exatamente em razão dos limites apertados nos dois lados da equação, não dispõem de liberdade para movimentos radicais. A "cautela" no manejo da política monetária, reafirmada no RTI, já presente na ata da última reunião do Copom, é uma expressão desses limites.

E dentro dessa lógica que se pode entender ser a tendência do BC a de moderar a política de juros, procurando adiar ao máximo o início de um novo ciclo de alta e limitando também ao I máximo o nível e o ritmo das eventuais elevações. Curioso observar que se trata de uma estratégia antípoda à adotada pela instituição no período de Henrique Meirelles, quando o Copom decidia subir a taxa básica ao primeiro sinal de escape dos índices de inflação da convergência para o centro da meta.