Título: Manipulação agora é caso encerrado
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2013, Economia, p. B3

A presidente Dilma Rousseff ficou furiosa quando viu a repercussão de sua entrevista em Durban, na África do Sul, e pôs auxiliares em polvorosa para dizer que as declarações haviam sido manipuladas. Ao afirmar que combater a inflação com medidas de desaquecimento econômico é “uma política superada”, um “receituário que quer matar o doente”, Dilma não disse nada de novo em relação ao que tem dito desde que era ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula.

O problema foi ter dado as declarações na véspera da divulgação do relatório trimestral de inflação do Banco Central. O momento era impróprio. Dilma, porém, estava irritada com entrevistas publicadas no fim de semana onde economistas defendiam a redução do emprego para enfrentar a inflação. Ela também não gostou de ler que o mercado estava apostando no aumento dos juros como o remédio amargo necessário para trazer a inflação para o centro da meta de 4,5%.

As declarações de Dilma fizeram os juros futuros despencar. O mercado ficou agitado. Em conversas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, Dilma decidiu que era preciso agir rápido. Foi então que ela mandou Tombini ligar para o Broadcast, serviço de informação da Agência Estado.

Tombini disse que a interpretação de que o governo estava sendo tolerante com a inflação estava totalmente errada. O resultado da entrevista, porém, não surtiu o efeito desejado. Bastante contrariada, Dilma pediu à ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, que divulgasse nota no Blog do Planalto dizendo que sua afirmação havia sido manipulada. A própria presidente disse isso aos jornalistas à saída do encontro com Xi Jinping, o novo líder chinês.

“A notícia que saiu é manipulada”, esbravejou Dilma. Ontem, nenhum assessor queria falar sobre o assunto. A confusão era dada como “caso encerrado”. Enquanto isso, o BC jogou a toalha e admitiu que não será possível levar a inflação para o centro da meta. Mesmo que os juros voltem a subir.