Título: Mercado consolida aposta em alta do juro
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2013, Economia, p. B3

Relatório de Inflação faz maior parte dos analistas prever novo ciclo de ajuste da Selic

O Relatório Trimestral de Inflação divulgado ontem pelo Banco Central (BC) deixou na maioria dos analistas a impressão de que a taxa básica de juros (Selic) será elevada para conter a inflação. Mas o consenso acaba nesse ponto. Há dúvidas sobre quando o processo se iniciará e qual magnitude terá. Tanto que, no mercado de juros da BM&FBovespa, as taxas futuras para prazos mais curtos caíram, enquanto as mais longas subiram.

O economista Cristiano Oliveira, do banco Fibra, afirmou que "o relatório não difere muito das atas recentes (das reuniões do Comitê de Política Monetária): é preciso algum ajuste nas condições monetárias, mas isso não é iminente".

Assim, argumentou, o BC voltou a indicar que a Selic não sobe em abril. "Apesar de a alta dos juros ser "quase" inevitável, o ajuste poderá ocorrer apenas em maio ou até mesmo ser postergado para 2014 ou 2015."

Os analistas do banco Goldman Sachs também projetam elevações da Selic, mas antes. "Em nossa avaliação, as perspectivas para a inflação e a desancoragem das expectativas justificam elevações imediatas da taxa básica", afirmaram, em relatório. A desancoragem a que se referem diz respeito ao fato de os analistas projetarem inflação acima do centro da meta tanto em 2013 quanto em 2014.

Por isso, o Goldman Sachs acredita num ciclo total de altas da taxa básica de 1,25 ponto porcentual, com início já na reunião de abril do Copom. A primeira elevação é estimada em 0,25 ponto porcentual, seguida de mais dois ajustes de 0,50 ponto porcentual cada nos encontros de maio e julho. Ao final do ciclo, a Selic estaria em 8,50% ao ano.

Os analistas do Itaú, comandados pelo ex-diretor do BC Ilan Goldfajn, apostam em um ciclo total de elevações da taxa básica de um ponto porcentual, levando-a para 8,25% ao ano. A primeira alta - de 0,25 ponto porcentual - ocorreria na reunião de maio do Copom e seria seguida de outras três na mesma magnitude, em julho, agosto e outubro.

O relatório divulgado pela equipe do Itaú lembra que, no relatório, o BC voltou a adotar a palavra cautela, citada várias vezes na ata da última reunião do Copom. Por isso, observam, "a alta de juros, se ocorrer, tende a ser moderada e cautelosa".

Os analistas da LCA Consultores disseram não terem visto razões para alterar a projeção de que a taxa básica subirá 1,50 ponto porcentual em 2013, para 8,75% ao ano.

"Nossa curva para a Selic, que inclui três aumentos de 0,50 ponto porcentual a partir de maio, não encontra no relatório motivo para revisão."

Realizada ontem, uma pesquisa do serviço AE Projeções, da Agência Estado, mostrou que a maioria (19) entre 30 analistas consultados aposta que o BC dará início ao processo de ajuste monetário em maio.

Três instituições acreditam que as elevações começarão já em abril, enquanto duas avaliam que o processo se iniciará em agosto. Outras duas preveem altas a partir de outubro e quatro veem a Selic estável em 2013.