Título: Eletrobrás fecha ano com perda de R$ 6,9 bi
Autor: Warth, Anne ; Alegretti, Laís
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2013, Economia, p. B6

Só no 4º trimestre, prejuízo foi de R$ 10 bi, causado pela novas regras para concessões

Fortemente afetada pelo novo marco regulatório do setor elétrico, a Eletrobrás registrou o pior resultado de sua história no ano passado. Foi também o maior prejuízo na história das empresas de capital aberto brasileiras em qualquer período trimestral, segundo levantamento da consultoria Economática.

As mudanças promovidas pelo governo geraram uma perda contábil de R$ 10 bilhões para a companhia. Com isso, o prejuízo líquido foi de R$ 6,879 bilhões em 2012, revertendo o lucro líquido de R$ 3,733 bilhões registrado no ano anterior. No quarto trimestre, o prejuízo líquido foi de R$ 10,499 bilhões.

A Eletrobrás teve de recalcular todos os seus ativos, antes avaliados pelo valor contábil, pelo critério de valor novo de reposição, mesmo aqueles cujos contratos estão longe do prazo de vencimento. Sem o efeito da renovação das concessões, a empresa calcula que teria tido lucro de R$ 3,2 bilhões no ano passado.

Ainda assim, o presidente José da Costa Carvalho Neto defendeu a escolha da companhia. "Se não aceitássemos a proposta do governo, tudo isso que está acontecendo agora aconteceria em 2015", afirmou.

"Limpamos tudo e chegamos ao fundo do poço. Agora, só tem coisa para melhorar na Eletrobrás." O diretor financeiro e de Relações com Investidores, Armando Casado, informou que espera "resultados melhores" no primeiro trimestre deste ano. "Acabamos de fazer todos os ajustes", disse.

Apesar das perdas, os investidores foram surpreendidos com o pagamento de dividendos, tanto para acionistas preferenciais quanto para ordinários. A Eletrobrás usou uma reserva de lucro de R$ 11 bilhões para manter o compromisso com os acionistas. As ações PNB (preferenciais, sem direito a voto) fecharam com alta de 16,19%, enquanto as ON (ordinárias, com direito a voto) subiram 11,84%.

Com uma nova realidade de custos e receitas, a Eletrobrás também apresentou seu plano de negócios para o período que vai deste ano até 2017. Entre as medidas, a companhia vai promover um plano de desligamento incentivado e espera dispensar entre 4 mil e 5 mil funcionários, de um total de 27 mil.

Todas as empresas do grupo terão o orçamento contingenciado em 20%.

Com essas ações, que incluem a unificação de operações e escritórios, a Eletrobrás espera reduzir o custeio em 30% nos próximos três anos.

Distribuidoras. Ainda não há uma decisão sobre o que será feito com as seis distribuidoras que integram o grupo. Segundo Carvalho Neto, entre as possibilidades apresentadas ao governo estão a venda dessas empresas e a entrada de um parceiro estratégico, com participação minoritária ou majoritária, o que é visto com bons olhos pelos analistas.

Mas, independente da definição, o presidente da companhia garantiu que, em 2014, as distribuidoras estarão com a situação financeira equilibrada e, em 2015, terão de dar lucro. Já a Amazonas Energia terá as operações desmembradas entre em duas: Amazonas Distribuição e Amazonas Geração e Transmissão. Mais tarde, as atividades de geração e transmissão serão incorporadas à Eletronorte.

Carvalho Neto disse ainda ser possível que as usinas térmicas a carvão de Nutepa, São Jerônimo e a fase A de Candiota, que pertencem à Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), não tenham seus contratos prorrogados. "Essas concessões vencem em 2015 e talvez a gente não renove", declarou.