Título: Pastor cria mal-estar até no PSC ao citar Satanás
Autor: Bresciani, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2013, Nacional, p. A5

Após fala de Marco Feliciano, deputada Antônia Lúcia (AC), sua correligionária, ameaçou deixar a vice-presidência da Comissão dos Direitos Humanos; deputado pediu desculpas.

Uma declaração do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) de que antes dele a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias era dominada por "Satanás" provocou reações ontem na Câmara. Vice-presidente do colegiado, a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), ameaçou deixar o cargo. No mesmo sermão em Passos (MG), na noite da sexta-feira passada, o deputado afirmou que pastores e padres poderão ser presos caso a lei que criminaliza a homofobia seja aprovada pelo Congresso.

A reunião de líderes que discutiria a situação foi adiada porque o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB), se submeteu a uma cirurgia e só volta a Brasília na próxima semana. Deputados contrários a Feliciano entrarão com um recurso pedindo à Mesa Diretora da Casa a anulação da sessão que o elegeu. Eles argumentam que a eleição não deveria ter sido realizada a portas fechadas e não poderia ser presidida por outro deputado após Domingos Dutra (PT-MA), então presidente, ter renunciado. Será sustentado ainda que Feliciano não tem condições de atender às atribuições regimentais da comissão.

O sermão inflamado do pastor foi feito enquanto manifestantes protestavam contra ele no interior de Minas Gerais. "Essa manifestação toda se dá porque pela primeira vez na história desse Brasil um pastor cheio de espírito santo conquistou um espaço que até ontem era dominado por Satanás", disse Feliciano durante o evento religioso no sul de Minas. Ele afirmou ainda que o projeto de lei que criminaliza a homofobia era um risco para as igrejas católicas e evangélicas. "Se o PL 122 for aprovado e for criminalizado qualquer tipo de pensamento sobre o ato deles (homossexuais), nossos pastores serão presos, nossos padres serão presos."

Reações. A reação no Congresso foi além dos opositores de Feliciano. Vice-presidente da comissão e cotada para substituí-lo numa eventual renúncia, a deputada Antônia Lúcia ameaçou deixar o cargo. "Em respeito à minha própria pessoa, ao meu trabalho como parlamentar, eu não aceito uma declaração dessas. Eu acho que nós temos que separar igreja de Parlamento", disse ela à Agência Câmara, lembrando que participou da comissão nos últimos três anos.

Feliciano recorreu ao Twitter para comentar o tema. Ele disse ter conversado com o líder do PSC, André Moura, e com Antônia Lúcia.

Afirmou ter pedido desculpas à deputada, que teria aceito. A deputada não comentou se manteria a sua decisão de deixar o cargo de vice-presidente e o líder do partido também não se pronunciou. O pastor afirmou que ao utilizar a palavra "Satanás" desejava dizer apenas "adversários".

A deputada Erika Kokay (PT-DF) afirma que a nova polêmica reforça a tese de que Feliciano não tem condições de se manter no cargo. "Dizer que a comissão era presidida por Satanás é mais uma demonstração grosseira da incapacidade e insustentabilidade da permanência dele", afirmou. Além de tentar anular a eleição, deputados que fazem oposição a Feliciano solicitarão aos líderes partidários que retirem os parlamentares indicados por eles para a comissão, o que impediria o funcionamento do colegiado.

A proposta é uma alternativa à tese de renúncia coletiva, que não produziria efeitos porque a maioria da comissão é de apoiadores do pastor