Título: Feliciano decide que, agora, Comissão de Direitos Humanos só faz sessões fechadas
Autor: Eresciani, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2013, Nacional, p. A3

Congresso. Alvo de constantes protestos, pastor que preside colegiado da Câmara aprovou ontem regra, de sua autoria, estabelecendo que as reuniões serão restritas a parlamentares, jornalistas e pessoas que a Casa autorizar; ele se recusa a renunciar

Em decisão inédita para evitar o cerco de ativistas, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) aprovou ontem um requerimento de sua própria autoria que toma todas as sessões da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que ele preside, fechadas ao público.

A decisão contou com o apoio dos parlamentares presentes à reunião, todos eles apoiadores do pastor. Feliciano disse tomar a atitude com o "coração sangrando", mas afirmou ser essa a única forma de dar seguimento aos trabalhos da comissão devido às manifestações de ativistas que pedem sua saída do cargo.

Na sessão de ontem, além dos deputados, só foi permitida a entrada de assessores e profissionais da imprensa. Os manifestantes, contra e a favor do pastor, ficaram do lado de fora gritando palavras de ordem. Houve conflito em alguns momentos e a Polícia Legislativa interveio. Os ativistas contrários ao pastor tentaram invadir o corredor que dá acesso ao plenário da Casa e o gabinete da presidência da Comissão de Direitos Humanos.

Ao propor que o formato da reunião seja mantido para o futuro, Feliciano disse lamentar a medida. "Faço isso com o coração sangrando, mas se não for dessa forma não conseguiremos trabalhar." Após a sessão, justificou a medida: "Não é reservado, é aberto com restrições. Semana passada nós tivemos tumulto e pessoas se machucaram". Na penúltima sessão, um manifestante foi preso, a pedido do pastor, pela Polícia Legislativa.

Identificação. Feliciano disse ainda que um segundo passo é a permissão da entrada de representantes dos grupos organizados nos protestos, mas eles terão de se identificar antes e poderão ser retirados se atrapalharem os trabalhos.

Além do apoio de colegas da comissão, Feliciano tentou obter respaldo da direção da Câmara. Ele encaminhou um ofício ao 1º vice-presidente da Casa, André Vargas (PT-PR), e chegou a falar que tinha autorização da Mesa Diretora. Vargas, em nota, disse ter sido apenas informado da decisão do pastor.

Mesmo os apoiadores do pastor mostraram desconforto com a ideia de transformar em regra a reunião fechada ao público. O coordenador da bancada evangélica, João Campos (PSDB-GO), afirmou que a melhor saída seria a Polícia Legislativa identificar os manifestantes mais exaltados e retirá-los. Roberto de Lucena (PV-SP) e Pastor Eurico (PSB- PE) afirmaram que o ideal seria manter a entrada de todos, mas apoiaram Feliciano quando ele definiu este formato como o único "Sucesso". Na reunião de ontem, definida pelo pastor como um sucesso", foram aprovados oito requerimentos. Um deles era moção de repúdio por declarações homofóbicas do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro.

Outro trata da viagem que Feliciano fará na próxima semana à Bolívia para visitar os 12 corintianos presos em Oruro após a morte de um torcedor local pelo disparo de um sinalizador. O pastor só fará a viagem depois da reunião de líderes convocada para a próxima semana para discutir sua permanência. Questionado se está disposto a atender ao pedido dos líderes, disse: "Desde que não seja para renunciar".

Um grupo de nove parlamentares protocolou ontem novo pedido de processo por quebra de decoro parlamentar contra Feliciano. Eles pedem investigação sobre gastos realizados pelo deputado no mandato, como o pagamento a um advogado que o defende em um processo criminal e suspeitas de funcionários fantasmas, e a suposta omissão pelo pastor de duas empresas em sua declaração de renda. Ele nega as irregularidades.

Vice do pastor visita o "homem da motosserra"

Vice-presidente da comissão de Direitos Humanos, a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC) é amiga pessoal e visitou no sábado passado, dia 30/3, o ex-parlamentar e ex-coronel da Polícia Militar Hildebrando Pascoal, que liderou na década de 90 um esquadrão da morte no Acre. Por ter ordenado um assassinato em que foi utilizada uma motosserra e um facão para esquartejar a vítima, o ex-policial foi condenado em 2009 a 18 anos de prisão. Ele foi cassado pela Câmara em 1999.

Hildebrando está internado no Hospital das Clínicas do Acre por enfrentar problemas de saúde. Foi no leito do hospital que ele recebeu a visita da deputada. A assessoria da deputada confirmou a visita. Ele pediu a ela ajuda nos processos, que, em sua visão, estariam sendo encaminhados de forma política. Antônia Lúcia era cotada para substituir o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na hipótese de uma renúncia. Nessa semana, ela ameaçou deixar a comissão após a declaração dele de que o colegiado era dominado por Satanás. / E.B.