Título: A queda dos juros e a estabilidade dos bancos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2013, Economia, p. B2

Os primeiros efeitos da queda dos juros já aparecem no Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central (BC) relativo ao segundo semestre de 2012 e divulgado ontem: reduziu-se um pouco o ritmo de expansão do crédito; a liquidez aumentou muito; e a inadimplência dá sinais de acomodação.

Os bancos, em geral, estão capitalizados para enfrentar situações difíceis ~ isto é, pòdem passar por testes de estresse, segundo a Diretoria de Fiscalização do Banco Central. Os números refletem apenas a média, pois, não fosse assim, não teriam ocorrido as liquidações ou mudanças de controle de instituições de médio porte.

Dada a internacionalização da economia, a melhora da saúde dos bancos internacionais é um elemento importante para avaliar a estabilidade dos bancos locais. Houve, segundo o relatório, "sensível redução na percepção de risco e na volatilidade dos mercados ao longo do período". O BC destacou a importância da atuação da União Européia e do Banco Central Europeu, além da compra de títulos soberanos no mercado secundário.

No Brasil, o BC registrou um "ritmo mais sustentável de crescimento" do crédito - indício do reconhecimento oficial de que os emprésti- mos vinham se expandindo além do razoável. A tendência de aumento do endividamento das famílias como proporção da renda perdeu ímpeto. E atenuou-se a inadimplência,-em especial no segmento de veículos: caíram a menos da metade os atrasos superiores a quatro meses, que melhor revelam a gravidade da inadimplência. Em geral, os bancos passaram a lucrar menos em razão da queda dos juros, mas poderão retomar os ganhos se concederem mais empréstimos.

Mas, embora o sistema bancário seja sólido - há reservas de R$ 1,60 para cada R$ 1,00 em atraso -, o índice de eficiência das instituições piorou após a queda dos juros, pois as despesas administrativas diminuíram menos do que o necessário.

Salvo os depósitos a prazo, todos os instrumentos de captação dos bancos registraram resultados positivos. O que ocorreu com as cadernetas de poupança dá uma ideia da temperança dos aplicadores: mais de R$ 300 bilhões - de um total de cerca de R$ 500 bilhões - permaneceram aplicados com a remuneração de 0,5% ao mês mais a TR, válida para os depósitos feitos até 3 de maio de 2012. São estáveis, portanto.

A estabilidade protege o sistema bancário de incertezas, mas, sem um aumento de prazo da captação e dos empréstimos, será mais lenta a retomada do crescimento econômico.