Título: Coreia do Norte promete ampliar seu arsenal atômico e recusa negociação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2013, Internacional, p. A10

Ameaças. Após reunião do ditador Kim Jong-un com o órgão máximo na hierarquia política do regime, Pyongyang afirma que suas bombas nucleares representam "a vida nacional" e não serão trocadas "nem por bilhões de dólares" num acordo com as grandes potências

Em mais um passo na escalada de tensão na Península Corea­na, a ditadura de Kim Jong-un prometeu ontem ampliar sua capacidade nuclear e indicou que recusará qualquer diálogo com as grandes potências so­bre seu programa atômico. Se­gundo uma nota publicada ao final de uma reunião do órgão máximo do regime de Pyong­yang, armas nucleares repre­sentam "a vida nacional" e "não serão trocadas nem por bilhões de dólares".

Kim presidiu ontem um en­contro do comitê central do Par­tido dos Trabalhadores sobre a crise regional. Os debates da en­tidade - a mais alta na hierarquia política do regime - haviam sido convocados para discutir "uma nova linha estratégica" à Coreia do Norte. Segundo a imprensa estatal, o comitê central con­cluiu que o novo governo deve investir mais na ampliação de seu poder nuclear, qualificado de "tesouro" do país, e no desen­volvimento econômico.

As declarações da Coreia do Noite são mais uma demonstra­ção de força diante da pressão de Seul, Washington e da comuni­dade internacional. A nova esca­lada da tensão veio após os norte-coreanos realizarem um teste nuclear subterrâneo, em feverei­ro, levando o Conselho de Segu­rança das Nações Unidas a im­por sanções adicionais contra Pyongyang. A China, principal aliada da ditadura de Kim, apoiou as medidas da ONU, am­pliando ainda mais o isolamento do regime de Pyongyang.

Na semana passada, america­nos e sul-coreanos realizaram manobras militares conjuntas, as quais Pyongyang respondeu com o rompimento de todos os canais de comunicação, incluin­do os usados para controle de fronteira. Na quinta-feira, Wa­shington sobrevoou a Península Coreana com dois bombardei­ros ultramodernos B-2, com tecnologia que os toma invisíveis a radares. Logo depois, a ditadura de Kim colocou em alerta seus mísseis apontados a alvos sul-co­reanos e americanos, e decretou que toda a região estava "em esta­do de guerra".

Especialistas, porém, duvi­dam que os norte-coreanos se ar­risquem em uma aventura mili­tar. As ameaças teriam um duplo objetivo: testar o novo governo sul-coreano, da presidente Park Geun-hye, que assumiu no mês passado; e reforçar as creden­ciais militares do jovem Kim, as­segurando-lhe o apoio dos gene­rais do regime.

Pyongyang anunciou ontem que não está disposta a negociar seu programa nuclear, algo que as potências ocidentais colocam como precondição para reduzir o isolamento do regime. "(As ar­mas nucleares) não são nem uma moeda de troca política nem algo para barganhas econô­micas", avisou a nota ao final da reunião do comitê central - o úl­timo encontro desse tipo fora em 2010. "A Coreia do Norte não se autodesarmará."

Para reforçar o recado, o comu­nicado norte-coreano dizia mais à frente: "As forças nucleares re­presentam a vida nacional e nun­ca poderão ser abandonadas, en­quanto os imperialistas e as ameaças atômicas continuarem a existir na Terra". / reuters