Título: Campos cobra de Dilma corte do custo da água, assim como fez com a energia
Autor: Boghossian, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2013, Nacional, p. A4

Em encontro reservado da pre­sidente Dilma Rousseff com governadores do Nordeste pa­ra anunciar medidas federais de combate à seca - a pior dos últimos 6o anos o governa­dor de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), cobrou da União a isenção de impostos (PIS e Gofins) de empresas pú­blicas de água do Nordeste pa­ra diminuir o custo da presta­ção de serviços na região.

Num contraponto à presiden­te, Campos, que se movimenta para disputar a Presidência con­tra Dilma em 2014, sugeriu que a petista repita o modelo de deso­neração adotado com o setor elé­trico, que levou à redução das contas de luz. A redução das tari­fas de energia é uma das princi­pais bandeiras que a petista deve carregar na reeleição.

“Recentemente, seu governo anunciou desonerações da or­dem de R$ 14 bilhões em favor das empresas distribuidoras de energia elétrica. Agora, é chega­da a hora de conceder benefício semelhante às nossas compa­nhias de água, que estão sendo duramente castigadas pela estia­gem", disse o governador, cujas frases na reunião fechada com Dilma foram divulgadas por sua assessoria de imprensa.

Ao chegar ao evento, pela ma­nhã, Campos não quis comen­tar sua possível candidatura. "Quem está sofrendo com a se­ca, perdendo suas plantações e rebanhos não quer saber ago­ra sobre quem vai disputar as eleições no ano que vem”, afir­mou.

O ministro da Integração Na­cional, Fernando Bezerra (PSB), confirmou que a proposta de de­soneração foi feita por Campos. Segundo ele, o governo vai estu­dar a questão. A presidente Dil­ma disse ao governador que uma desoneração só tem sentido se for revertida em benefícios à po­pulação como o que ocorreu com a conta de luz.

Ao lado de Eduardo Campos, os demais governadores do Nor- deste sugeriram que o governo federal “capitalize” as empresas de água, ou seja, faça aportes de recursos via BNDES para redu­zir prejuízos das empresas de água, que na seca intensificam o abastecimento de caminhões-pipa. O governo federal acha essa proposta mais factível.

“As empresas de água estão passando por uma situação difí- ; cil, com tendência a se agravar”, descreveu o governador do Cea­rá, Cid Gomes (PSB). Ele acres­centou que Dilma deverá anali­sar a proposta de desoneração “em um segundo momento” quando forem feitos debates so­bre renegociação tributária.

A sugestão de Campos foi en­dossada pelos governadores Ri­cardo Coutinho (PSB-PB), Wil­son Martins (PSB-PI) e Rosalba Ciarlini (DEM-RN). Segundo o pernambucano, o corte de im­postos daria fôlego às empresas para fazer caixa e investir em “obras estruturantes”.

Crítico. No encontro de ontem, Campos manteve uma postura “crítica” em relação ao governo federal, segundo governadores e secretários presentes na reu­nião. Enquanto outros adminis­tradores fizeram elogios aos in­vestimentos feitos na gestão Dil­ma, o pernambucano destacou que a base econômica da região está “desprotegida” e cobrou “clareza” na formulação de um projeto de longo prazo.

“Hoje já não se tem o trauma que se tinha há 50 anos no que toca a questão da fome, mas o que essa estiagem demonstrou é que a base econômica ainda está desprotegida. E precisamos de obras de infraestrutura e políti­cas públicas que protejam essa base, com inovação tecnológi­ca”, disse Campos, antes da reu­nião com Dilma.

A presidente rebateu indireta­mente, as críticas de Campos mais tarde, em evento que não contou com a presença do per­nambucano. Ao lado de Cid Go­mes, disse que obras federais de infraestrutura no Nordeste evi­tam que a estiagem afete a pro­dução agrícola. “Nos últimos meses, eu estive no Piauí, Sergi­pe, Paraíba, Alagoas e Pernam­buco. Em todos os Estados, eu assinei contratos e visitei obras como barragens, adutoras e ele­vatórias, que viabilizam a ofer­ta de água”, afirmou Dilma. “Conviver com a seca tem vá­rias dimensões, e uma delas é como iremos superar os seuâ efeitos garantindo uma obra de grande duração. Essas obras fa­zem parte de um conjunto de obras que o governo federal tem desenvolvido".