Título: Marcos Valério vai ser ouvido de novo
Autor: Rizzo, Alana ; Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2013, Nacional, p. A5

A Procuradoria da República no Distrito Federal vai ouvir de novo o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza so­bre as acusações feitas por ele em depoimento prestado no dia 24 de setembro do ano pas­sado. Durante o julgamento do mensalão, Valério foi esponta­neamente à Procuradoria-Ge- ral da República, em Brasília, afirmar, entre outras coisas, que Luiz Inácio Lula da Silva foi beneficiado pelo esquema. O empresário disse ainda que o ex-presidente deu “ok” para os empréstimos bancários fraudulentos que viriam a irri­gar o mensalão. Lula classifica o depoimento de mentiroso.

Os procuradores responsá­veis pelas seis investigações pre­liminares abertas pelo Ministé­rio Público local consideram que esse seria um passo necessá­rio para saber se os procedimen­tos devem ser levados adiante ou se devem ser arquivados.

Eles explicam que Valério, em vários momentos, restringiu o re­lato dos fatos a poucas linhas, em determinados pontos, a ape­nas duas linhas de depoimento.

É o caso, por exemplo, das acu­sações que fez segundo as quais o dinheiro do mensalão também pagou a campanha do senador Humberto Gosta (PT-PE) ao go­verno de Pernambuco. Também é o caso da afirmação segundo a qual o Banco do Brasil cobrava “pedágio” de empresas de publi­cidade para financiar os cofres do PT. Por conta disso, procura­dores consideram inevitável que Valério seja novamente ouvido, seja pessoalmente pelos inte­grantes do Ministério Público ou pela Polícia Federal.

Cada um dos seis procedimen­to preliminares abertos pelo Mi­nistério Público Federal em Bra­sília foi distribuído para um pro­curador diferente. Outros dois fatos narrados no depoimento do operador do mensalão já es­tão sendo investigados pelo Mi­nistério Público. O órgão não in­forma do que se tratam especifi­camente tais procedimentos.

Responsável por uma das apu­rações, o procurador José Robalinho Cavalcanti afirmou que a de­cisão de desmembrar as apura­ções em seis foi praticamente unânime. “Não havia conexão dos fatos entre si. Os fatos não eram conectados entre si do pon­to de vista legal e, em alguns ca­sos, nem factual”, afirmou.

O depoimento de Valério foi ini­cialmente remetido pela Procura- doria-Geral da República para o Ministério Público Federal em Minas Gerais. Após analisar o teor das acusações do empresário, um procurador mineiro decidiu remeter o caso para Brasília. A Procuradoria da República em Minas Ge­rais já investiga o repasse de di­nheiro para a empresa de Freud Godoy, segurança do ex-presiden­te Lula. Segundo Valério, foi por meio dessa transação que o di nheiro chegou ao ex-presidente, Valério foi condenado a mais de 40 anos de prisão pelo Supre­mo por operar o esquema de des­vio de verba para o pagamento de parlamentares na gestão Lula.