Título: Coreia do Norte anuncia que reativará centro para produção de arma nuclear
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2013, Internacional, p. A8

Escalada. Enriquecimento de combustível atômico será retomado no complexo de Yongbyan, desativado após acordo com os EUA e mais quatro países em 2007; objetivo é produzir eletricidade e aumentar capacidade de arsenal, avisa Kim Jong-un, em discurso

A Coreia do Norte anunciou ontem que vai reabilitar o rea­tor e a planta de enriquecimento de urânio do complexo nuclear Yongbyan, com o objeti­vo de produzir energia e obter material para a fabricação de armas atômicas. Desmantela­do como resultado de um acor­do alcançado com os EUA e mais quatro países em 2007, o reator de Yongbyan era a úni­ca fonte norte-coreana de plu­tônio, material utilizado nos testes nucleares realizados em 2006 e 2009.

Especialistas estrangeiros não concluíram se a bomba deto­nada em fevereiro era de plutônio ou urânio enriquecido. Ana­listas acreditam que o país já te­nha entre quatro e dez armas atômicas construídas com plutônio processado antes de 2007.

A agência oficial de notícias norte-coreana disse que a deci­são de reabilitar o reator e a plan­ta de enriquecimento de urânio do complexo nuclear Yongbyan tem como objetivo reduzir a "aguda falta de eletricidade" e fortalecer a força armada nu­clear". A decisão foi divulgada em meio ao agravamento da ten­são na Península Coreana, em ra­zão de exercícios militares con­juntos entre EUA e a Coreia do Sul e uma sucessão de ameaças vindas do Norte, entre as quais a de realizar ataques nucleares preventivos contra seus antigos adversários na Guerra da Coreia (1950-1953).

Apesar do anúncio de ontem, os últimos dias marcaram uma mudança na retórica de Pyongyang, que passou a enfatizar o ca­ráter defensivo de seus investi­mentos atômicos. "Nossa capa­cidade nuclear é um instrumen­to confiável de dissuasão e uma garantia de proteção de nossa so­berania", declarou Kim Jong-un em discurso, no sábado, durante encontro do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia, cuja íntegra só foi divul­gada ontem.

Defesa. Pyongyang sustenta que as manobras militares reali­zadas por EUA e Coreia do Sul são uma preparação para a inva­são de seu território. Os exercí­cios ocorrem todos os anos e es­tão entre os maiores do gênero em todo o mundo.

Desde o início dos exercícios, no dia 1.°, o governo de Kim Jong-un anunciou o abandono do ar­mistício que pôs fim à Guerra da Coreia e de todos os pactos de não agressão firmados com Seul. Também pôs sua artilharia em estado de alerta máximo, com mísseis apontados para os EUA e o vizinho do sul. No sábado, Pyongyang declarou que estava em "estado de guerra" com Seul.

Se efetivada, a reativação do reator e da planta de enriqueci­mento de urânio do complexo nuclear Yongbyan será mais um passo na direção do fortaleci­mento da capacidade nuclear da Coreia do Noite. O anúncio de ontem não indicou em quanto tempo o complexo entrará em operação, mas parte dele terá de ser reconstruída.

Meses depois do acordo que levou ao fechamento de Yongb­yan, televisões de todo o mundo mostraram a espetacular ima­gem da implosão da torre de res­friamento do seu reator, apresen­tada como um símbolo da deter­minação de Pyongyang de aban­donar seu programa nuclear.

China» O anúncio da reativação do complexo é especialmente embaraçoso para a China, princi­pal aliada da Coreia do Noite e articuladora das negociações que levaram ao acordo de 2007.

"A China tem defendido de maneira consistente a desnuclearização da península e a ma­nutenção da paz e estabilidade na região", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hong Lei.

Além dos três testes nucleares, a Coreia do Norte lançou um foguete em dezembro para pôr um satélite em órbita, ação condenada pelo Conselho de Segurança da ONU.

A tecnologia utilizada no fo­guete é semelhante à aplicada em mísseis balísticos, cuja utili­zação pelo país está proibida por resoluções do Conselho.