Título: ONU aprova tratado sobre comércio de armas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2013, Internacional, p. A10

Pacto internacional prevê limitações à exportação de armamento a países que não respeitem os direitos humanos

A Assembleia-Geral da ONU aprovou ontem por esmagadora maioria o primeiro tratado inter­nacional que regula o comércio global de armamento, vinculan­do pela primeira vez essa venda ao respeito aos direitos huma­nos pelos compradores.

A votação do Tratado sobre o Comércio de Armas ocorre depois de um fracassado esforço para obter consenso entre os 193 países-membros da ONU, na se­mana passada, bloqueado por Irã, Coreia do Norte e Síria.

Os três países, os únicos que votaram contra o pacto interna­cional, afirmaram que seu texto continha várias deficiências e fo­ra preparado para tratá-los de maneira desleal.

O pacto exige que os países que exportam armas adotem critérios que vinculem as exportações ao respeito pelos direitos humanos e ao combate ao terro­rismo e crime organizado. Os paí­ses que o aprovaram terão de in­formar publicamente suas ven­das anualmente.

Embora o tratado não conte­nha um mecanismo que obrigue sua implementação, exige que o comércio de armamentos ocor­ra de maneira mais transparen­te, o que, segundo os seus defen­sores, poderá limitar intercâm­bios considerados ilícitos.

Ao todo, 154 países votaram em favor do tratado - entre eles os EUA, os maiores exportado­res de armas do mundo. Houve 23 abstenções: notavelmente de Rússia e China, que também são importantes comerciantes de ar­mas, assim como dos principais importadores, Índia, Paquistão e Indonésia. Essas abstenções fi­zeram com que a eficiência do pacto fosse questionada. O Bra­sil, terceiro maior exportador de armas convencionais, votou em favor da iniciativa.

Os patrocinadores do tratado depositam suas esperanças na rá­pida ratificação do pacto por um grande número de nações, pre­vendo que isso pressionará as po­tências que se abstiveram a assiná-lo. E observaram que, ante­riormente, os países que se absti­veram estavam dispostos a ade­rir ao tratado original. Mas essas importantes abstenções tam­bém são sinais de que transfor­mar o pacto numa lei internacio­nal será um processo árduo.

Vitali Churkin, o enviado da Rússia à ONU, disse que as dúvi­das do Kremlin a respeito das su­postas ambiguidades do pacto, como a definição de termos co-mo genocídio, levaram o seu go­verno a abster-se.

O apoio ao tratado foi particu­larmente intenso entre muitos países africanos - mesmo que o texto do compromisso fosse mais fraco do que alguns haviam previsto - e a maioria dos gover­nos do continente afirmou que, no longo prazo, freará o comér­cio de armas, que tem alimenta­do conflitos na região.

As nações poderão aderir ao tratado no início de junho e ele entrará em vigor como lei internacional assim que 50 países o ratificarem. Como a Assembleia- Geral votou de maneira tão es­magadora em favor do pacto, acredita-se que ele entrará em vi­gor ainda esse ano.

Antes da votação numerosos países levantaram objeções ao tratado, afirmando que o pacto favorece consideravelmente os exportadores - permitindo que eles determinem subjetivamen­te quais são os Estados que cum­prem diretrizes humanitárias. É possível que o tratado seja deso­bedecido no futuro, fomentando pressões políticas injustas, disseram países como Cuba, Ni­carágua e Síria.

A questão mais difícil é saber quais serão as conseqüências do tratado para o comércio global de armas - e durante quanto tem­po. Os especialistas têm a certe­za de que muitas coisas mudarão. É mais difícil de avaliar em prazo mais curto.

Os EUA e muitos países europeus afirmam que já aprovaram diretrizes sobre vendas de ar­mas que vinculam o comércio ao histórico dos compradores em matéria de direitos humanos e a outras questões previstas no tratado. Mas parece improvável que o tratado influa de algum mo­do no fornecimento externo de armas ao governo sírio, por exemplo, porque o Irã se opõe e a Rússia ainda hesita. Ambos são os principais canais de abasteci­mento de armas convencionais ao governo de Damasco. /Nyt