Título: Indústria tem o pior resultado em 4 anos
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2013, Economia, p. B1

Depois de um início de ano vigoroso, a indústria voltou a decepcionar em fevereiro. A queda na produção foi de 2, 5%, devolvendo praticamente todo o crescimento de janeiro (2,6%), informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A retração, o pior resultado desde dezembro de 2008, foi puxada pela menor produção de automóveis, mas as perdas foram disseminadas, atingindo 15 dos 27 ramos investigados. Porém, a categoria de bens de capital avançou pelo segundo mês consecutivo, o que pode apontar uma retomada dos investimentos.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) comparou a oscilação da produção neste início de ano a um a "efeito gangorra". Se por um lado o aumento na fabricação tanto de automóveis quanto de caminhões impulsionou o desempenho da indústria em janeiro, a mesma atividade derrubou o resultado em fevereiro.

A queda na produção de veículos automotores foi de 9,1% no mês. Os caminhões mantiveram a tendência de recomposição de estoques, mas os automóveis sucumbiram ao ligeiro aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que pode ter ocasionado antecipação de compras nos meses anteriores. "Há fatores pontuais que, em boa medida, tornaram mais volátil a série de dados da produção industrial neste início de ano", avalia o Iedi.

IPI Informações das montadoras ao IBGE mostraram paralisações por férias coletivas e ampliação de capacidade produtiva em fevereiro. "A produção de bens de consumo está com comportamento menos dinâmico. Você pode ter maior importação (atendendo à demanda interna), claro, mas também algum esgotamento. Quando você fala de automóveis, você tem algum tempo com redução de IPI. Claro que os efeitos vão sendo cada vez menos intensos", diz André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Macedo salientou, porém, não ser possível prever o impacto sobre a indústria da prorrogação do IPI menor para automóveis até o fim do ano. O retorno gradual do imposto pode ter influenciado ainda a queda na produção de artigos de mobiliário e de eletrodomésticos em fevereiro.

Embora o resultado da indústria tenha aspectos negativos, o aumento de 1,6% na produção de bens de capital pode indicar recuperação dos investimentos. Enquanto o índice de difusão da indústria - que mostra o porcentual de produtos com expansão na produção - ficou em 38,4% em fevereiro, o mesmo indicador n a categoria de bens de capital foi de 61,9%.

Houve aumento na produção de caminhões, mas também de bens de capital para a construção, para a ampliação de parque industrial e para o setor agrícola. "Foi um movimento espalhado de crescimento nesse segmento de bens de capital", diz Macedo.

A economista-chefe Solange Srour Chachamovitz, do Bank of New York Mellon ARX Investimentos, acredita que a continuidade da alta na produção de bens de capital mostra que os investimentos começam a se recuperar. "O desempenho do setor está mostrando que a parte de investimentos, finalmente, está começando a se recuperar."

No primeiro bimestre, a produção de bens de capital acumula ganho de 13,3%. Segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a recuperação dos bens de capital pode significar um ambiente mais favorável ao investimento, mas é preciso cautela. / Colaboraram Beatriz Bulla e Francisco Carlos De Assis