Título: Após alerta, ONU suspende o envio de funcionáríos para a Coreia do Norte
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2013, Internacional, p. A8

Ameaças. Diplomatas e membros de ONGs que atuam em Pyongyang permanecem na capital norte-coreana, mas possibilidade de retirada é considerada; propaganda do governo continua a fafar em guerra iminente e na necessidade de fortalecimento militar

A Organização das Nações Unidas suspendeu o envio de novos funcionários para a Coréia do Norte, mas decidiu manter em Pyongyang os que já estão trabalhando no país, pelo menos por enquanto. Outras representações estrangeiras também pretendem permanecer no local e continuarão a avaliar a situação nos próximos dias.

Na sexta-feira, o governo norte-coreano pediu que embaixadas e organizações internacionais com representações no país informem até a quarta-feira o que planejam fazer diante do agravamento da tensão na Península Coreana e o risco de um confiito armado, no qual Pyongyang seria o principal alvo.

A possibilidade da retirada dos funcionários está sendo dis-; cutida, mas não havia sido anunciada por nenhuma entidade ou embaixada até ontem. O embaixador brasileiro, Roberto Colin, permanecia na Coreia do Norte com a mulher, Svetlana, e o filho Danil, de 10 anos. A agência France Presse registrou estrangeiros embarcando no aeroporto de Pyongyang para Pequim.

A capital norte-coreana teve um sábado calmo. A exemplo dos dias anteriores, não havia nenhum sinal evidente de tensão ou I mobilização militar. Apesar do dia chuvoso, mutirões trabalhavam na plantação de grama nos I canteiros das calçadas, enquanto um fluxo interminável de pedestres percorria a cidade, uma cena comum em razão da precariedade do transporte público. Como sempre, a propaganda oficial continuou a defender a necessidade de fortalecimento militar e a apresentar a guerra como uma possibilidade iminente. A ameaça externa é um dos principais fatores de coesão do regime norte-coreano, que a apresenta como justificativa para os investimentos militares e também para as profundas dificuldades econômicas enfrentadas pelo país. Segundo programa exibido na TV estatal norte-coreana na tarde de ontem, o líder Kim Jong-un pediu no dia 17 que operários da industria belica do país intensifiquem a produção de armamentos.

"No momento em que a guerra começar, nós temos que destruir as localizações militares : chave e as instituições governamentais dos inimigos com um ataque rápido e súbito", decla-I rou, durante encontro com trabalhadores da indústria de defesa. "Nós temos de garantir de maneira absoluta a qualidade de nossa artilharia e bombas, para obter um rápido ataque preventivo contra nossos inimigos", afirmou Kim.

Nos últimos dias, a primeira página do principal jornal do país, o Rodong Sinmun, foi dominada por textos sobre a nova política que enfatiza a necessidade de desenvolvimento simultâneo da economia e de armas nucleares, aprovada há uma semana durante reunião do Partido dos Trabalhadores da Coreia.

Segundo fontes militares citadas pela imprensa sul-coreana, o regime de Kim Jong-un transportou no fim da semana dois mísseis para a costa leste do país e os instalou em bases móveis de lançamento. O Ministério da Defesa de Seul não acredita que as armas serão disparadas contra alvos em outros países e prevê que elas serão utilizadas em testes ou exercícios militares.

Celebração. No dia 15, os norte-coreanos comemorarão o aniversário de nascimento de Kim II-sung, o fundador do país venerado como um semideus. A data é a mais importante da Coreia do Norte e é marcada com desfile militar, performances artísticas e alguma exibição de força, que poderia ser o teste de um míssil, segundo analistas políticos.

No ano passado, o regime escolheu uma data às vésperas do centenário de Kim Il-sung para lançar o que disse ser um foguete que colocaria um satélite em órbita - que o Conselho de Segurança da ONU viu como um teste de míssil balístico.

O foguete caiu no mar segundos depois de ser disparado. Kim Jong-un fez nova tentativa em dezembro e conseguiu colocar em órbita o satélite, ainda què haja dúvidas sobre sua operacionalidade.

Outro fator que pode levar a um teste de mísseis norte-corea-nos é a continuidade dos exercícios militares que Estados Unidos e Coreia do Sul realizam na região há um mês, que serão encerrados no fim de abril. Pyongyang sustenta que as operações são uma preparação para a invasão e seu território e afirma que somente a posse de armas nucleares pode garantir a integridade do país. / COM AFP