Título: Coreia do Norte desativa polo industrial com 53 mil operários bancado por Seul
Autor: Trexrisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2013, Nacional, p. A6

A Coreia do Norte anunciou ontem a suspensão das opera­ções e a retirada de todos os seus trabalhadores do comple­xo industrial de Kaesong, o único símbolo remanescente de cooperação entre os dois la­dos da Península Coreana e fonte importante de divisas para Pyongyang.

Nota divulgada pela imprensa oficial ressaltou que o governo vai analisar se a zona econômica especial retomará as atividades no futuro ou será fechada de ma­neira permanente.

Concebido na década passa­da, Kaesonguniu o capital do Sul e a mão de obra barata do Norte em um projeto que previa a cres­cente integração econômica en­tre os dois lados da península. Cento e vinte fábricas sul-coreanas estão instaladas no local, on­de trabalham 53 mil operários norte-coreanos.

A retirada dos operários foi anunciada pelo secretário do Par­tido dos Trabalhadores da Co­reia do Norte, Kim Yang Gon, que atribuiu a decisão à suposta intenção de Seul de transformar Kaesong em um “teatro de con­fronto".

Segundo ele, o governo do país vizinho feriu a “dignidade” do Norte ao se referir a Kaesong como uma “fonte de dinheiro” e falar sobre “detenção” e “re­féns”. Na quarta-feira, Pyong­yang suspendeu a entrada de funcionários sul-coreanos no complexo, mas cerca 500 conti­nuavam no local ontem, para manter as linhas de produção em funcionamento.

O eventual fechamento de Kaesong acabará com o último vestígio da política de aproxima­ção empreendida na década pas­sada, que também incluía o com­plexo turístico Monte Ku- mgang, fechado em 2008 depois que um soldado norte-coreano matou a tiros uma visitante do Sul.

Na avaliação do embaixador brasileiro em Pyongyang, Rober­to Colin, o anúncio norte-corea­no se enquadra em um contexto mais amplo no qual o regime de Kim Jong-un tenta zerar as rela­ções com a Coreia do Sul e os EUA, para renegociá-las em no­vas bases. “Os norte-coreanos desejam um acordo de paz e o estabelecimento de relações di­plomáticas”, observou.

O país continua tecnicamen­te em guerra com os EUA e a Coreia do Sul e está convencido de que os norte-americanos que­rem a queda do regime coman­dado há mais de seis décadas pe­la família Kim. “Os EUA querem repetir os métodos antiquados de invasão que usaram nos Bál­cãs e no Oriente Médio”, disse ontem editorial publicado na primeira página do principal jor­nal oficial, o Rodong Sinmun.

Empresários sul-coreanos in­vestiram US$ 800 milhões em Kaesong, cuja produção atingiu US$ 470 milhões no ano passa­do. Só em salários, a Coreia do Norte recebe cerca de US$ 80 milhões anuais, que são pagos diretamente ao governo.

A suspensão das operações do complexo é a mais recente de uma sucessão de medidas adotadas pelo Norte em respos­ta a exercícios militares que os EUA e a Coreia do Sul realizam desde 1.° de março.

Pyongyang anunciou que dei­xaria de respeitar o armistício que colocou fim à Guerra da Co­reia em 1953 e ameaçou realizar ataques nucleares preventivos contra o território norte-ameri­cano.

Na semana passada, o país re­velou que irá reabilitar o reator e a planta de enriquecimento de urânio do complexo Yongbyon, desativado em 2007. O regime do jovem ditador Kim Jong-un, de 30 anos, também reiterou que não abrirá mão de seu proje­to militar atômico.