Título: Religiosos, políticos e artistas protestam contra o pastor
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2013, Nacional, p. A6

Manifestação no Rio, em Copacabana, reitera críticas à escolha de Feliciano para presidir comissão na Câmara

Cerca de 1,2 mil pessoas pro­testaram na manhã de ontem em Copacabana, contra a per­manência do deputado fede­ral e pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP) na presi­dência da Comissão de Direi­tos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

A manifestação reuniu parla­mentares, artistas e representan­tes de diferentes organizações religiosas e grupos sociais.

Gritando palavras de ordem pedindo pela saída de Feliciano, os manifestantes caminharam pela orla de Copacabana em um protesto que durou mais de duas horas. "Tire sua fobia do cami­nho, que eu quero passar com o meu amor", declaravam alguns dos cartazes empunhados pelos participantes do ato.

Para o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque, a postura autoritá­ria e intolerante do pastor Mar­co Feliciano revela sua pretensão de capturar a comissão para uma agenda "restrita e fundamentalista". "Isso só reforça a importância do Congresso e dos partidos políticos se darem con­ta do enorme erro que comete­ram ao colocar a Comissão dos Direitos Humanos como moeda de troca numa barganha política por posições."

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) reconheceu que a eleição do deputado Feliciano para a comissão não fere o regi­mento interno da Câmara, mas afirmou que os parlamentares es­tão se mobilizando para tentar demovê-lo do cargo. "O PSC tem outros nomes. Nós sugeri­mos até o nome do Hugo Leal, que, apesar de ser conservador, é um cara do diálogo."

Wyllys disse ainda que Felicia­no tem adotado a estratégia de entregar a relatoria das proposições que chegam à comissão para análise a aliados que possivelmente irão barrá-las. "Não é que vamos banir o ponto de vista conservador do debate político. O Marco Feliciano nem conserva­dor é. É reacionário".

Para o deputado estadual Mar­celo Freixo (PSOL-RJ), presi­dente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Assembleia Legislativa do Rio, posturas semelhantes à de Feliciano, que mistura o seu fundamentalismo com um projeto de Estado e de poder, já custaram muito caro a outras nações.

"São muitos lugares no mun­do que estão pagando um preço muito alto por não terem um es­tado laico. Estamos falando de bandeiras históricas que sempre tiveram, no estado laico, a garan­tia de sua existência, e hoje estão ameaçadas."

As polêmicas declarações têm causado desgastes no próprio PSC. A deputada Antônia Lúcia, integrante da Comissão de Direi­tos Humanos há três anos, amea­çou renunciar ao careo de vice-presidente da comissão após Fe­liciano dizer que o colegiado era "dominado por Satanás".

Aliados de Feliciano argumen­tam que o pastor estaria sendo perseguido por uma espécie de "cristofobia", o que é contesta­do por representantes de diferentes entidades religiosas que estiveram presentes ontem à manifestação. "Esse movimento não é de forma alguma contra uma igreja ou uma religião. A homofobia e o racismo negam os valores essenciais do cristianis­mo", disse o padre Ricardo Re­sende, um dos fundadores do Movimento Humanos Direitos.