Título: Coreia do Norte adverte que erro de cálculo pode desencadear guerra
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2013, Internacional, p. A10

Uma eventual guerra na Penín­sula Coreana vai começar por um ataque dos Estados Uni­dos ou um "erro de cálculo", disse ontem o governo da Co­réia do Norte em briefing à co­munidade diplomática no país, sem especificar qual dos lados poderia cometer equívo­cos.

Em uma crítica velada à Coreia do Norte, o presidente chinês, Xi Jinping, disse ontem que ne­nhum país tem o direito de jogar a região ou o mundo todo no caos em razão de objetivos egoístas.

O governo norte-coreano acu­sou os americanos de provoca­rem um nova escalada na crise, com o envio à região de dois des­tróieres e do porta-aviões Nimitz, que está em direção ao Pací­fico para atividades de treina­mento planejadas anteriormen­te. "Se uma bala atingir as águas ou o território de nosso país, nós vamos reagir", disse o governo. Segundo ele, a estabilidade na re­gião só será obtida com a suspen­são das sanções do Conselho de Segurança da Organização da ONU e a retirada dos 28 mil sol­dados americanos estacionados na Coreia do Sul - condições que dificilmente serão atendidas.

O regime atribuiu a serviços de inteligência norte-coreanos a informação sobre o deslocamen­to das embarcações americanas, mas o envio dos destróieres foi confirmado na semana passada pela Marinha dos EUA.

O porta-aviões Nimitz está realmente a caminho do Pacífi­co, como parte de uma missão de treinamento que aparentemen­te não tem relação com a situação na Península Coreana.

Reportagem publicada na quinta-feira pelo Wall Street Journal afirmou que Washington não pretendia revelar o desloca­mento dos destróieres, com o temor de que a informação agravas­se ainda mais a tensão e provo­casse reações indesejadas de Pyongyang.

Durante encontro com a co­munidade diplomática, o gene­ral norte-coreano reiterou que o país não tomará a iniciativa de realizar ataques e atribuiu o apro­fundamento da crise às "hostili­dades" americanas.

No Coreia do Sul, o diretor de Segurança Nacional, Kim Jang-soon, afirmou que existe a possibilidade de Pyongyang lançar um míssil antes do fim desta semana. De acordo com Seul, o Norte colocou dois mísseis de "considerável alcance" em bases móveis na costa leste do país.

Na quinta-feira, o ministro da Defesa sul-coreano, Kim Kwan-jin, avaliou ser pouco provável que a Coreia do Norte direcione eventuais disparos a outros paí­ses e previu que o regime de Kim Jong-un usará as armas para tes­tes ou exercícios militares.

Evento» No dia 15, os norte-coreanos vão celebrar o aniversário de nascimento de Kim Il-sung, o avô do atual ditador do país vene­rado como um semideus. A data é a mais importante da Coreia do Norte e costuma ser marcada com eventos grandiosos.

No ano passado, o então recém-empossado Kim Jong-un realizou em 13 de abril o fracassa­do lançamento de um foguete de longo alcance, que caiu no mar um minuto após decolar. Para os americanos e aliados, o disparo foi um teste de míssil balístico intercontinental, proibido pelas resoluções do Conselho de Segu­rança da ONU.

Representações diplomáticas e de organismos internacionais decidiram permanecer em Pyongyang, apesar da oferta do governo de transferi-las a outras regiões do país, já que a capital seria o primeiro alvo na hipótese de um conflito.

O governo alemão protestou ontem contra o prazo (quarta-feira) dado por autoridades norte-coreanas para que os diploma­tas informem se pretendem sair do país. Em nota, o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, classificou de "inaceitá­vel" a exigência.

Segundo ele, a Convenção de Viena obriga os países a proteger as representações diplomáticas estrangeiras em caso de confli­to.

Ameaça

Governo norte-coreano "Um erro de cálculo pode levar a uma guerra na Península Coreana. Se uma bala atingir as águas ou o território de nosso país, nós vamos reagir"