Título: A meta de inflação deveria ser elevada
Autor: Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/03/2013, Economia, p. B3

Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e ex-secretário de Política Econômica

Para ex-secretário de Política Econômica, política monetária deve ser administrada sem dogmas

O Banco Central está correto ao adotar uma postura de cautela para avaliar o comportamento da inflação, para decidir se eleva os juros, avalia o ex-secretário de Política Econômica, Luiz Gonzaga Belluzzo. Em entrevista à Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, ele ponderou, contudo, que a política monetária deve ser administrada sem dogmas. Nesse contexto, ele sugere que o Conselho Monetário Nacional (CMN) eleve a meta de inflação, pois a instabilidade da economia mundial gera choques de oferta que provocam alta dos preços, mesmo quando o crescimento global é baixo.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

A presidente Dilma Rousseff tem razão ou não ao dizer que não acredita em política de combate à inflação que prejudica o crescimento?

A presidente Dilma está diante de uma questão difícil de resolver. Ocorreram choques de oferta externo e interno que elevaram a inflação. Alguns economistas estão sugerindo que o Banco Central eleve imediatamente a taxa de juros. O BC já avisou que vai observar qual é a extensão da inflação. E ele faz muito bem. Essa discussão surgiu em boa medida devido à avaliação de alguns especialistas de que seria necessário aumentar a taxa de desemprego para controlar a inflação. Fazer isso por causa de um choque de oferta, quando ele pode se diluir ao longo do tempo, seria um remédio inadequado. O Banco Central está agindo com muita cautela e clarividência. Mas não podemos ter posições muito dogmáticas. Eu não acho que alguns analistas imaginam que a inflação saiu do controle e estaria voltando à situação dos anos 1980, depois do choque da dívida externa. Porém, acredito também que de maneira nenhuma o governo pode descuidar de sinais que apontem uma aceleração inflacionária.

Como o senhor avalia a evolução recente da inflação?

Algumas características da inflação são estruturais. Uma delas é a alta dos serviços, um reflexo do ganho dos salários nos últimos anos e o aumento do acesso ao crédito. E vamos ter de

conviver com ele. É preciso ter a inflação sob controle, mas sem tentar colocar dentro da meta diante de uma conjuntura internacional tão instável. Poucas vezes a inflação ficou no Brasil exatamente na meta. Armínio Fraga (ex-presidente do BC) mudou a meta num momento de crise.

Aumentar a meta de inflação seria oportuno?

Acho bastante razoável. Esse é um ponto muito importante. Talvez seja mais apropriado rediscutir a meta de inflação para cima. Isso aconteceu na administração do Armínio Fraga. E essa decisão não foi vista por alguns (na época) como um pecado mortal.

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