Título: Feliciano diz que só sai se João Paulo e Genoino saírem
Autor: Bresciani, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2013, Nacional, p. A8

Presidente da Comissão de Direitos Humanos usa como escudo condenados que integram a Comissão de Constituição e Justiça.

O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) condicionou sua eventual saída da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara à retirada dos petistas João Paulo Cunha (SP) e José Genoino (SP), condenados no mensalão, da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ontem, após reunião com líderes partidários, o pastor afirmou que só deixa o cargo se o PT retirar seus parlamentares da CCJ.

Feliciano ampliou seu apoio na Câmara com o respaldo de líderes que tinham se mantido neutros até então, prometeu abrir as reuniões ao público novamente e recebeu uma moção de apoio em um evento nacional de pastores da Assembleia de Deus.

A vinculação do caso Feliciano à situação dos deputados condenados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão é uma estratégia do PSC para desgastar o PT - partido dos parlamentares que comandam a resistência ao pastor. Para o PSC, essas indicações tiram do PT os argumentos para questionar a permanência do pastor na Comissão de Direitos Humanos.

No fim do dia, Feliciano recuou da vinculação feita em reunião fechada com líderes partidários.

"Tem certeza que eu disse isso? Está gravado?", questionou, após receber o apoio de evangélicos.

Porém, o líder do PT, José Guimarães (CE), que é irmão de Genoino, disse por meio de nota que não responderia às "provocações" de Feliciano.

O ataque ao PT acontece depois de duas ministras do governo Dilma Rousseff terem feito críticas à sua permanência na comissão. Ele rebateu Maria do Rosário (Direitos Humanos) e disse sequer conhecer Luiza Bairros (Igualdade Racial). "É um elogio ela (Maria do Rosário) falar mal de mim. Ela é a favor do aborto e outras coisas, é um elogio. A outra eu nem conheço, não posso falar", afirmou o pastor.

Efeito contrário. A reunião com os líderes partidários teve efeito contrário ao desejado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Alguns líderes que mantinham distância do caso decidiram se manifestar a favor do pastor. Além de seu partido, Feliciano teve o apoio de PMDB, PSD, PRB è PMN. O líder do PR, Anthony Garotinho (RJ), até sugeriu que ele saísse para evitar o desgaste, mas também manifestou apoio. Do outro lado ficaram líderes de PT, PC do B, PPS, PDT e PSOL. O PSDB decidiu nem participar da reunião.

"Ninguém ganhou. Ele permanece como presidente porque o regimento dá guarida a ele", afirmou Alves, que destacou o recuo do pastor da decisão de fechar todas as reuniões da comissão. Feliciano, porém, já reiterou que poderá ordenar a retirada dos manifestantes e a troca de plenário caso os protestos continuem.

O deputado do PSC recebeu o apoio da Convenção Geral da Assembleia de Deus do Brasil, entidade que organiza um evento com 24 mil pastores em Brasília. Uma moção de apoio foi aprovada defendendo a permanência dele na comissão. Para os pastores, Feliciano está sendo "discriminado por suas convicções ideológicas" e "enxovalhado pela mídia".

Tumulto nas quatro sessões

13 de março

Bate-boca

A 1.ª sessão da comissão sob o comando de Feliciano é marcada por bate-boca, vaias, aplausos e tumulto.

20 de março

8 minutos

Entre gritos e palavras de ordem, o pastor deixa a 2ª reunião do colegiado 8 minutos após o início dos debates.

27 de março

Manifestante detido

Na 3ª reunião, Feliciano manda prender um manifestante e faz audiência fechada.

3 de abril

Portas fechadas

Feliciano aprova regra que torna as sessões fechadas - na 4.ª reunião só entram deputados, assessores e jornalistas.