Título: Pyongyang fala em guerra termonuclear e recomenda abandono da Coreia do Sul
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2013, Internacional, p. A12

A Coreia do Norte sugeriu a turistas e estrangeiros residentes na Coreia do Sul que busquem abrigo ou deixem o país, em razão da probabilidade de uma "guerra termonuclear" na região, decorrente de "hostilidades indisfarçáveis" dos EUA e de Seul.

O alerta não foi feito pelo Exército nem pelo governo norte-coreanos, mas por uma organização responsável pelos contatos econômicos com empresas da Coreia do Sul. "Uma vez que a guerra na península for desencadeada, ela será uma guerra generalizada, uma guerra retaliatória, sagrada e sem piedade empreendida pela República Popular Democrática da Coreia", disse a comunidade, usando o nome oficial do país.

Na capital norte-coreana, não havia nenhum sinal de um conflito armado iminente. O movimento nas ruas era semelhante ao visto nos últimos sete dias, sem presença ostensiva de forças militares. Segundo relato das agências de notícias, a situação também era de normalidade na capital da Coreia do Sul, onde representantes diplomáticos disseram não ter planos de deixar o país. "Neste momento, não vemos nenhuma ameaça imediata a cidadão britânicos na Coreia do Sul", disse à CNN Colin Grav, responsável pelas relações com a imprensa da Embaixada da Inglaterra em Seul.

Com a nota de ontem, Pyongyang retoma o tom belicista que havia abandonado desde o fim de semana passada, quando passou a dar mais ênfase a questões econômicas.

O regime comandado pelo ditador Kim Jong-un reagiu com retórica estridente a exercícios militares conjuntos que EUA e Coreia do Sul iniciaram em 1.° de março. As manobras ocorrem todos os anos, mas desta vez os americanos decidiram fazer uma exibição de poderio militar, levando à região submarinos nucleares e bombardeiros B-2, equipados com tecnologia que impede sua detecção por radares.

A demonstração de força foi uma resposta à realização do terceiro teste nuclear da Coreia do Norte, em 12 de fevereiro, apesar da oposição do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em dezembro, o país já havia desafiado a instituição ao lançar um foguete de longo alcance que, segundo o governo de Pyongyang, tinha o objetivo de colocar um satélite em órbita.

A ação foi considerada pelo Conselho de Segurança da ONU como um teste de míssil balístico intercontinental, proibido por resoluções da entidade.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, avaliou como "muito perigosa" a situação na região. "Um pequeno acidente provocado por um erro de cálculo ou julgamento pode criar uma situação incontrolável", declarou ontem em Roma.

A Coreia do Norte cumpriu ontem sua promessa de retirar seu 53 mil operários do complexo industrial de Kaesong, o último símbolo de cooperação entre os dois lados da península. Nenhum deles se apresentou para o trabalho nas 123 fábricas sul-coreanas mantidas em território norte-coreano.

Pouco mais de 400 funcionários do Sul continuavam ontem no local, aberto em 2004 com investimentos de US$ 800 milhões. O objetivo de Kaesong era unir o capital do Sul e a mão de obra barata do Norte em um projeto de cooperação que aproximasse os dois países que surgiram depois da divisão da Península Coreana em 1945.

Decisão. Integrantes de representações diplomáticas e organizações internacionais na Coreia do Norte devem informar hoje o governo de Pyongyang se pretendem deixar o país ou sair da capital. Até a noite de ontem, a tendência da maioria era permanecer na capital norte-coreana, mas o assunto ainda será discutido na manhã de hoje.

O Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte enviou ontem uma nota às representações estrangeiras no país reiterando o pedido para que elas informem o que pretendem fazer. A solicitação já havia sido feita verbalmente no sábado.

Segundo a nota, a Coreia do Norte vai "respeitar e proteger" os membros das missões diplomáticas e suas famílias na hipótese de confronto. Em caso de emergência, eles poderão ser transferidos para um "local seguro".