Título: Todo mundo adiou que íamos dar palpite sobre a taxa de juros
Autor: Amorim, Daniela ; Nunes, Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2013, Economia, p. B4

Belluzzo diz que ele, Delfim e Nakano não

? conversaram sobre uma possível alta da Selic em almoço com Dilma

No dia seguinte ao encontro com a presidente Dilma Rousseff, os economistas Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo e Yoshiaki Nakano preferiram a discrição. Com exceção de Belluzzo, que concedeu uma entrevista à Rádio Estadão, os outros dois se mantiveram em silêncio.

Segundo Belluzzo, o principal assunto tratado durante o almoço com Dilma foi a reunião dos Brics na África do Sul, realizada há duas semanas. "Esses países ÇBrasil, Rússia, índia, China e África do Sul) deixaram de ser uma sigla e entraram no mundo agora", disse ele.

O professor da Unicamp não negou que a política econômica interna também tenha sido abordada no encontro, mas frisou que o foco não foi a condução da política monetária.

"Todo mundo achou que gente ia dar palpite sobre a taxa de juros, mas isso é uma coisa imprópria", afirmou. "O sujeito que está de fora não deve fazer isso. A decisão (sobre elevar ou não a taxa básica Selic) cabe ao Banco Central.”

Belluzzo, no entanto, não se furta a deixar clara sua avaliação sobre o que o BC deveria fazer. “A economia está passando por mudanças de preços relativos que se reflete em uma alta geral de preços”, disse.

“Então, o Banco Central tem de agir. É simples. Se acha que a difusão é muito grande, e a inflação ameaça escapar do controle, tem de agir. Não há drama, segredo nem angústia.”

Na terça e quarta-feira da próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reúne-se para definir se mexe ou não na taxa Selic, atualmente no nível mais baixo da história, a 7,25% ao ano. Dado o nível da inflação - próxima do teto da meta de 6,5% nos 12 meses acumulados até fevereiro -, muitos analistas de mercado têm defendido uma elevação do juro já na semana que vem.

Embora indique ser favorável a um ajuste para cima da Selic, Belluzzo avalia que a ação do BC deve ser cautelosa. “Tem gente defendendo uma onda de desemprego para jogar a inflação para baixo”, criticou.

O professor da Unicamp revelou também que o trio de conselheiros econômicos conversou com a presidente Dilma sobre o que ele considera “inconsistências” acerca da medição do Produto Interno Bruto (PIB).

“Como houve uma mudança estrutural na economia brasileira, com o desenvolvimento do setor de serviços, houve uma mudança na composição do crescimento que a metodologia do IBGE não apanhou”, argumentou. “O aparelho (termômetro) não conseguiu detectar. Eu acho que a economia cresceu mais do que o?9% no ano passado.”

Apesar disso, Belluzzo entende que o governo não deve mexer nisso “porque vão dizer que está manipulando” os números. “O que nós precisamos é que os técnicos e também a academia discutam esse assunto.”

Belluzzo pondera que os economistas devem entender melhor os sintomas dessas mudanças dos últimos anos para propor mudanças na forma de mensurar o desempenho do PIB.

O economista disse ainda que a conversa tratou de questões relacionadas à concessão de serviços públicos à iniciativa privada, “dentro do contexto de confiança internacional que o Brasil precisa ter”.

Embora não tenham atendido à reportagem do Estado ontem, Delfim e Nakano têm defendido, em artigos e em seminários, que o governo aja para conter a inflação, mesmo que isso implique elevações da Selic, e adote uma política fiscal mais apertada.

LUIZ G. BELLUZZO

“Acho que a economia cresceu mais que 0,9% em 2012. Houve uma mudança na composição do crescimento que a metodologia do IBGE não apanhou."