Título: Abilio Diniz é eleito, sem unanimidade, presidente do conselho da BRF
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2013, Negócios, p. B14

Indústria. Após conquistar apoio da Previ (caixa dos funcionários do BB) e do fundo Tarpon, empresário conseguiu angariar aval de 62% dos acionistas; eleição é polêmica e questionada pelo Casino, sócio do Grupo Pão de Açúcar, cujo conselho Abilio também preside

O empresário Abilio Diniz foi eleito ontem presidente do conselho de administração da BRF, empresa resultante da fusão de Sadia e Perdigão. Ele vai substituir Nildemar Secches, que comandou a empresa por 18 anos. Pela primeira vez na história da BRF, a votação não foi unânime. Acionistas que representam quase 19% da empresa votaram contra ou se abstiveram.

A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás e que detém 12,2% das ações da companhia, preferiu se abster. Maior acionista da BRF, o fundo vinha se manifestando contrariamente à nomeação de Abilio, alegando que há conflito de interesses, já que o empresário é acionista e presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar.

Os votos contrários são secretos, mas, conforme o Estado apurou, votaram contra Décio da Silva, dono daWEG e um dos maiores acionistas individuais da BRF, com 3,5%, e representantes de estrangeiros, donos de mais 2,6%. No total, acionistas com 12,81% do capital se abstiveram e outros que detêm 6,08% das ações votaram contra a nomeação de Abilio para a presidência do conselho da BRF.

A entrada de Abilio na BRF foi apoiada pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e pelo fundo privado Tarpon. Abilio vem comprando ações da companhia desde o fim de 2012. O empresário tem hoje 2,6% do capital da empresa, ou cerca de R$ 1 bilhão. Na assem-bleia, Abilio foi representado por sua advogada, que votou pelo equivalente a 3,6% das ações (o empresário "alugou" uma fatia adicional no mercado, para aumentar sua participação).

Ontem, no mesmo dia da as-sembleia da BRF, Abilio vendeu mais um lote de ações preferenciais do Pão de Açúcar - 7,9 milhões de ações a um preço de R$ 104,50, levantando R$ 853 milhões. Segundo fontes, ele deve usar os recursos para diversificar suas aplicações. Abilio, porém, também teria interesse em aumentar ainda mais sua participação na BRF para até 5%.

A assembleia de acionistas que marcou a entrada de Abilio na BRF durou pouco menos de uma hora. Em Itajaí (SC), sede social da empresa, estiveram Nildemar e o presidente da companhia, José Antonio Fay. Os principais acionistas, incluindo a Previ, acompanharam porvideocon-ferência. A exceção foi Pedro Faria, sócio do Tarpon, que foi pessoalmente.

Abilio conseguiu angariar o apoio de 62% do capital da companhia, em uma assembleia com 81% de participação. Previ e Tarpon - seus apoiadores iniciais -detêm cerca de 20% da empresa. Segundo fontes próximas ao empresário, a BlackRock, que tem 5% do capital da BRF e também é acionista do Pão de Açúcar, votou a favor de Abilio.

Vozes contrárias. Apesar da larga margem conquistada por Abilio, houve momentos polêmicos na assembleia. "Como podemos votar num presidente de conselho de administração que vai ter de se abster em decisões importantes? Isso não é bom para a companhia", disse Rafael Rocha, acionista minoritário, quando o nome de Abilio foi colocado em votação.

Quando Secches se preparava para encerrar a assembleia, que naquele momento se estendia por apenas meia hora, Luiz Fernando Furlan, acionista e neto do fundador da Sadia, pediu a palavra. "As pessoas, como as empresas, cumprem ciclos em suas trajetórias. A BRF vai completar quatro anos no dia 19 e é uma nova empresa. Não é a Perdigão e não é a Sadia. Temos muito a agradecer ao Nildemar." Segundo fontes , Furlan apoiou a entrada de Abilio na empresa.

O advogado George Washington Marcelino, que representava 12,62% do capital nas mãos de estrangeiros, também pediu para protocolar em ata um voto de louvor a Secches por sua gestão. "Espero que a empresa continue trilhando um bom caminho, mas vou esperar para ver como fica. E uma pena", disse. No fim da sessão, ele confidenciou a Secches que estava "desanimado".

De saída. Secches, que foi o executivo responsável pelo crescimento da Perdigão e pela fusão com a Sadia, agradeceu aos acionistas por um "ciclo importante em sua carreira" e disse que o sucesso da BRF se deve à "brilhante" equipe. Abilio tem afirmado a pessoas próximas que não pretende fazer mudanças de gestão no curto prazo. Hoje, Abilio e Fay concedem uma entrevista coletiva. Representantes da Previ e da Tarpon vinham manifestando descontentamento com a gestão da BRF, considerada pouco agressiva.

Em entrevista após a assembleia, Secches fez questão de frisar que a BRF/Perdigão deu um retorno médio de 26% por ano aos acionistas durante 18 anos. Ele reconheceu que 2012 foi um ano difícil para a empresa, por causa da necessidade de cumprir o acordo com as autoridades de defesa da concorrência para fundir Sadia e Perdigão.

Na sua avaliação, esses contratempos acabaram atrasando as estratégias da empresa, como a internacionalização.