Título: Feliciano ignora protestos e diz que comissão vai de vento em popa
Autor: Brescian, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2013, Nacional, p. A6

Colegiado, há um mês sob o comando do pastor, não aprovou nenhum projeto ele diz que rendimento já era baixo em outros anos.

Com novos protestos, fechamento de sessão ao público, troca de plenário e presença maciça de evangélicos, a Comissão de Direitos Humanos realizou ontem mais uma sessão sob a presidência do deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP). Ignorando os críticos, ele afirmou que a comissão vai "de vento em popa" e reagiu quando um deputado falou em guerra santa dizendo que o colegiado não pode virar motivo de chacota.

Ao fim da reunião, o pastor comemorou. "A Comissão de Direitos Humanos está indo de vento em popa", disse. Até agora, em mais de um mês sob a presidência de Feliciano, nenhum projeto foi aprovado. A comissão votou 19 requerimentos, realizou uma audiência pública e outra foi cancelada por causa das manifestações. Para justificar o baixo rendimento, o deputado afirmou que há poucos projetos na comissão, que seriam polêmicos e poderiam criar "celeuma". Destacou

que a produtividade baixa já acontecia em anos anteriores e pediu que novos projetos venham para o colegiado. No ano passado foram aprovados apenas sete projetos e realizadas 36 audiências.

A tentativa de realizar uma sessão aberta durou exatos seis minutos, mesmo com a segurança da Casa restringindo o acesso de manifestantes. O plenário foi ocupado antes por um grupo de cerca de 40 apoiadores do pastor. Com a porta principal fechada, foi autorizada a entrada de cerca de 20 manifestantes contrários. Outros foram barrados, inclusive o deputado Chico

Alencar (PSOL-RJ). O número reduzido de ativistas, porém, foi suficiente para que durante os seis minutos em que ele tentou conduzir a sessão a voz dos deputados fosse abafada pelos gritos. O pastor decidiu então trocar a reunião de sala e proibir novamente o acesso livre à comissão. No outro plenário, era permitida apenas a entrada de deputados, assessores e profissionais da imprensa. Um grupo de pastores, porém, acompanhou a sessão, em silêncio.

A bancada evangélica mais uma vez comandou os debates. Em ampla maioria, eles fizeram ataques a Erika Kokay (PT-DF), que tentou obstruir os trabalhos, e acusaram parlamentares de incitar protestos. O deputado Silvio Costa (PTB-PE), que não é da comissão mas acompanhou a reunião, afirmou que o colegiado transformou-se em "guerra santa". Feliciano reagiu: "Essa comissão não pode virar motivo de chacota em nível nacional.Votamos coisas sérias aqui e vamos continuar".

Petistas. Após Feliciano afirmar que deixaria o cargo se João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP), condenados no mensalão, deixassem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Genoino foi à tribuna falar sobre direitos humanos. Sem citar Feliciano, se referiu a uma possível guerra santa no tema.

"É isso que nós estamos discutindo, porque, do contrário, nós vamos para a barbárie, nós vamos para a guerra santa, nós vamos para o fundamentalismo", disse Genoino na tribuna. Procurado, disse que não vai comentar a proposta feita por Feliciano. Cunha disse que cumpre a Constituição e o regimento ao participar da CCJ.