Título: Washington e Seul alertam que teste de míssil norte-coreano é iminente
Autor: Tremsan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2013, Internacional, p. A10

EUA e Coreia do Sul avaliaram ontem que Pyongyang poderá lançar um míssil “a qualquer momento”, o que agravaria ainda mais a tensão na Península Coreana. Os dois países e o Japão reforçaram as medidas de monitoramento e defesa, para reagir caso o foguete se dirija a seus territórios.

O ministro das Relações Exteriores de Seul, Yun Byung-se, afirmou que o míssil tem alcance de 3.500 km, o suficiente para atingir Coreia do Sul, Japão ou a ilha americana de Guam, localizada no Pacífico. Segundo ele, o foguete batizado de Musudan está pronto para ser disparado da costa leste da Coreia do Norte.

Autoridades japonesas anunciaram o posicionamento de baterias de defesa antiaérea em Tóquio e no Mar do Japão/Mar do Leste. Fontes do Pentágono disseram à CNN haver indícios de que o regime de Kim Jong-un pode realizar “múltiplos lançamentos de mísseis” nos próximos dias. Na semana passada, o ministro da Defesa da Coreia do Sul, im Kwan-jin, avaliou que eventuais disparos de foguetes pelo Norte terão o caráter de teste ou exercício militar e não serão destinados ao ataque de territórios de países vizinhos ou dos EUA.

Ontem foi mais um dia de calma em Pyongyang, com crianças e adolescentes jogando futebol ou patinando na praça Kim Iisung, o coração político da cidade, onde são realizados os grandiosos desfiles militares que se tornaram marca registrada da Coreia do Norte. Representantes diplomáticos e de organizações internacionais comunicaram ao governo do país que pretendem permanecer em Pyongyang, depois de avaliar que é remota a possibilidade de um conflito armado na região.

Autoridades norte-coreanas haviam solicitado que os estrangeiros informassem até ontem os seus eventuais planos de retirada da cidade. Na hipótese de conflito, o governo disse que irá “respeitar e proteger” os que permanecerem no país.

O ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul afirmou que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) realizará um reunião de emergência caso o Norte lance mísseis, já que a ação é proibida por resoluções da entidade.

O secretário de Estado norte americano, John Kerry, chega amanhã à Coreia do Sul para discutir a situação na região com o governo de Seul. Os dois países lutaram juntos na Guerra da Coreia (1950-1953) contra o Noite e até hoje os EUA têm 28 mil soldados estacionados no Sul.

Pyongyang se prepara para as celebrações, na segunda-feira, dos 101 anos de nascimento de Kim Il-sung, o fundador do país idolatrado pela população e apresentado como um semideus pela massiva propaganda oficial. A data é a mais importante para os norte-coreanos e, no ano passado, foi precedida do lançamento de um foguete que o Conselho de Segurança da ONU considerou como um teste de míssil balístico intercontinental.

Com a retórica bélica cada vez mais estridente da Coreia do Norte, é possível que o país realize um gesto militar de impacto para marcar a data e fortalecer a posição do jovem líder Kim Jong-un, de 30 anos, que chegou ao poder em dezembro de 2011.

O país já fez três testes nucleares, o mais recente no dia 12 de fevereiro, sempre em oposição a resoluções do Conselho de Segurança. Em dezembro, os norte-coreanos conseguiram lançar um foguete de longo alcance, supostamente para a colocação em órbita de um satélite. A ação foi condenada pelo Conselho de Segurança, que a viu como um teste de míssil balístico intercontinental.

A tensão na região se intensificou há pouco mais de um mês, quando EUA e Coreia do Sul deram início a exercícios militares que realizam todos os anos. O governo de Pyongyang viu nas manobras uma preparação para a invasão de seu território e reagiu com uma retórica estridente mesmo para os padrões dos dirigentes norte-coreanos.

O regime de Kim Jong-un abandonou o armistício que colocou fim à Guerra da Coreia em 1953, anunciou a reabilitação do complexo nuclear Yongbyon e ameaçou realizar “ataques preventivos” contra os EUA.