Título: PALACE II: PROCESSO NÃO ANDA APESAR DE PROTESTOS
Autor:
Fonte: O Globo, 23/02/2005, Rio, p. 14

O que seria apenas um protesto dos ex-moradores do edifício Palace II contra a morosidade de Justiça acabou se transformando ontem, na porta do Fórum, em confusão e bate-boca entre as vítimas ¿ que até hoje só receberam o equivalente a 10% das indenizações ¿ e o desembargador José Mota Filho, da 7ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio. De férias, ele foi ao Fórum para se defender das acusações de que estaria atrasando o processo. Uma hora e meia depois de muita discussão, Mota Filho se comprometeu a assinar ainda ontem um ofício pedindo informações a respeito do processo na 4ª Vara Empresarial. O ofício estava pronto há quase um mês aguardando a assinatura do desembargador.

Processo está parado desde dezembro

Segundo o advogado da Associação das Vítimas do Palace II, Nélio Andrade, de posse das informações que solicitou sobre o processo, o desembargador poderá julgar o mérito da questão no dia 1º de março. Em dezembro passado, Mota Filho concedeu liminar a um agravo de instrumento dos advogados do ex-deputado Sérgio Naya, dono da construtora do Palace, suspendendo o pagamento aos ex-moradores que seria feito com os R$8 milhões arrecadados no leilão do Hotel Saint Peter, de Brasília. Desde então, o processo está parado.

Com faixas, camisetas, chapéus, narizes de palhaço e bolo, o grupo de vítimas do edifício Palace II lembrou ontem os sete anos do desabamento do prédio, que matou oito pessoas. Além da lentidão da Justiça, os manifestantes reclamaram do tratamento que estão recebendo no Hotel Atlântico Sul, onde estão hospedados desde a queda do edifício.

¿ Como há dois anos o ex-deputado Naya não paga as diárias dos moradores, o hotel começou uma espécie de pressão branca contra as vítimas. Suspendeu o café da manhã, cortou telefones e retirou camas extras dos quartos. Um dos moradores chegou a ser expulso ¿ ressaltou o advogado Leonardo Amarante, responsável por ações individuais dos ex-moradores do Palace II.

Ao encontrar os manifestantes, o desembargador Mota Filho se disse magoado com as acusações de que estaria emperrando o processo. Ele afirmou que entendia a dor dos manifestantes, mas que era um ¿escravo da lei¿. A presidente da Associação das Vítimas do Palace II, Rauliete Guedes, lembrou que o caso do prédio foi considerado sui generis pelo juiz Luiz Felipe Salomão. Segundo ela, a demora no pagamento das indenizações está causando mais sofrimento aos ex-moradores. Mota Filho rebateu.

¿ Não é assim, com manifestações, que se trata uma coisa séria. Elas não fazem o processo andar. Estou cansado e doente, mas não faltei nem um dia ao trabalho. Não sou preguiçoso. É a ignorância que atrapalha o país. Não comecei este processo. Não posso corrigir o tempo ¿ defendeu-se o desembargador, depois de discutir com um ex-morador mais exaltado, que disse que lhe faltava coragem para assinar o ofício para ser enviado à 4ª Vara Empresarial.

Manifestantes foram convidados a ir a gabinete

Visivelmente nervoso, o desembargador convidou todos a irem a seu gabinete. Ele perdeu a paciência com uma ex-moradora que gritava por justiça no trajeto até o gabinete:

¿ Não faça teatro desta tragédia.

No gabinete, antes de receber o advogado Nélio Andrade, o desembargador fez questão de mostrar o que havia em seus armários e gavetas. Ouviu do advogado elogios quanto à sua conduta e pediu à secretária que trouxesse o ofício causador de tanta confusão. No entanto, embora se comprometesse a assinar imediatamente o documento, não o fez na frente dos manifestantes. Os ex-moradores deixaram o gabinete satisfeitos com a atitude de Mota Filho.