Título: INADIMPLÊNCIA CRESCEU MENOS NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DO GOVERNO LULA
Autor:
Fonte: O Globo, 23/02/2005, Economia, p. 22

O ritmo de crescimento da inadimplência diminuiu no governo Lula. Nos dois primeiros anos de mandato, de janeiro de 2003 a dezembro de 2004, a inadimplência aumentou 10,9%. Em 2001 e 2002, a taxa havia subido 55,2%. A redução foi maior para as empresas. No biênio 2003/2004, a inadimplência do consumidor cresceu 15,2% e a das empresas, 3,2%. Nos dois anos anteriores, a alta foi de 57,7% para os consumidores e de 30% para as empresas.

André Chagas, economista da Serasa, explica que a retomada da atividade econômica, impulsionada pelas exportações, beneficiou primeiro as empresas. Vagas foram abertas no mercado de trabalho, mas a recuperação de renda do consumidor ainda não ocorreu.

Cheques sem fundo lideram os casos de inadimplência

A renda real média dos trabalhadores, que era de R$1.041 em 2002, ficou em R$908 no ano passado. O orçamento das pessoas físicas já vem fragilizado desde 2001 por desemprego, queda da renda média real e juro elevado. Além disso, 2001 foi o ano da crise de energia, com racionamento, e 2002, o da especulação eleitoral, que inflou a taxa de câmbio.

¿ A difusão da retomada foi tardia. Só agora o efeito multiplicador da retomada começou a chegar aos trabalhadores ¿ diz ele.

O estudo da Serasa mostra que os cheques sem fundos representaram 35,5% do indicador das pessoas físicas, seguidos pela inadimplência de cartões de crédito e financeiras, com participação de 33,5%. As dívidas bancárias ocuparam o terceiro lugar, com 29%. Os 2% restantes referem-se a títulos protestados. Para as empresas, o protesto de títulos encabeça a lista, com 46,5%, seguido por cheques sem fundos, com 38%.

Chagas diz que o maior temor é que o benefício da retomada econômica não chegue, de fato, ao consumidor. Em setembro passado, o Banco Central (BC) voltou a aumentar mensalmente a taxa de juro básica da economia, a Selic. Um risco é que a taxa de inadimplência volte a crescer, mas as últimas pesquisas de juros divulgadas mostram que este aumento ainda não foi repassado para o crédito ao consumidor.

Em 2004, a emissão de cheques sem fundo em março alcançou o recorde de 17,2 a cada mil compensados. O indicador de inadimplência, que inclui outras modalidades, subiu 17%. Mas Chagas lembra que a inadimplência vem perdendo fôlego se comparada à do início do Plano Real.