Título: CORÉIA DO SUL PROVOCA QUEDA GLOBAL DO DÓLAR
Autor:
Fonte: O Globo, 23/02/2005, Economia, p. 25

O dólar caiu ontem frente às principais moedas nos mercados internacionais depois que a Coréia do Sul anunciou planos de diversificar suas reservas em moeda estrangeira, reduzindo seu volume em ativos americanos. Segundo dados do Tesouro dos Estados Unidos, os investidores públicos e privados da Coréia do Sul têm US$69 bilhões em títulos do Tesouro, enquanto as reservas chegam a US$200 bilhões.

O euro teve alta de 1,5%, para US$1,3252. O dólar caiu 1,5% frente à moeda japonesa, para 104 ienes, e 2% em relação ao franco suíço, para 1,1584 francos. A moeda americana também atingiu seu menor nível em sete anos frente ao won coreano.

¿ O dólar está sob pressão ¿ disse Andrew Busch, estrategista de câmbio da corretora Harris Nesbitt, lembrando que a Rússia disse ano passado que iria diversificar suas reservas. ¿ Isso (a decisão da Coréia) aumentou a especulação de que o Japão fará a mesma coisa.

De acordo com o jornal inglês ¿Financial Times¿, a Índia pode aprovar, semana que vem, a aplicação de parte de suas reservas de US$130 bilhões em projetos de infra-estrutura. Isso aumentaria ainda mais a oferta de dólares nos mercados internacionais, ajudando a derrubar as cotações.

Derek Halpenny, economista sênior do Banco de Tóquio-Mitsubishi, disse ao ¿Financial Times¿ que o recuo do dólar mostra que os mercados de câmbio estão menos preocupados com as diferenças entre as taxas de juros dos países. O que pesa mais agora são a saúde da conta corrente do país (em que os EUA têm déficit) e a diversificação das reservas por parte dos bancos centrais.

Soros diz que alta do petróleo fará dólar recuar mais

Segundo analistas, a diversificação das reservas já está ocorrendo na prática. Simon Derrick, diretor de câmbio do Banco de New York, disse ao ¿Financial Times¿ que as compras de títulos do Tesouro americano cresceram em US$17,7 bilhões por mês no último trimestre de 2004, enquanto as reservas asiáticas aumentaram em US$62,6 bilhões por mês. Nos três trimestres anteriores, a proporção era, respectivamente, de US$21 bilhões e US$38,9 bilhões.

O megainvestidor George Soros colocou mais lenha na fogueira ao afirmar, em uma conferência na Arábia Saudita, que os países exportadores de petróleo estão trocando dólares por euro, para preservar seus lucros da queda da moeda americana. Ele disse que, se os preços do petróleo continuarem subindo, o dólar vai cair ainda mais. E os preços do petróleo fecharam em alta ontem. O barril do cru leve americano para entrega em março, cujo contrato expirou ontem, avançou 5,79%, para US$51,15. Em Londres, o Brent subiu 4%, para US$48,62.

No Brasil, moeda ainda fica abaixo de R$2,60

O mercado brasileiro minimizou a decisão coreana, mas a alta do petróleo e o vencimento de uma dívida cambial de US$625 milhões fizeram o dólar subir 0,81% ontem, para R$2,599, sem intervenção do Banco Central (BC). Na máxima do dia, a moeda chegou a ser negociada a R$2,604 ¿ desde o último dia 11 o dólar não encerra os negócios acima dos R$2,60.

O temor de que a alta do petróleo pressione a inflação no Brasil levou pessimismo aos investidores, que já especulavam sobre o vencimento cambial. Como é a cotação média do dólar de ontem ¿ a chamada Ptax ¿ que remunera os contratos atrelados à moeda americana, quanto maior a cotação, maior o lucro.

Os juros acompanharam e, nos contratos futuros com vencimento em janeiro de 2006 ¿ os mais negociados ¿ as taxas projetadas subiram de 18,89% para 18,96% ao ano. O BC fará hoje o quarto leilão de contratos de swap cambial. Serão vendidos até 40 mil contratos com vencimento entre 2005 e 2006.

As altas do petróleo e do dólar reduziram a atratividade dos títulos da dívida externa brasileira. O Global 40, o mais negociado no mercado internacional, recuou 1,07% ontem, cotado a 115% do valor de face. O C-Bond caiu 0,31%, para 102,18%. Com isso, o risco-Brasil, termômetro da confiança dos investidores estrangeiros, subiu 2,53%, para 405 pontos.

Apesar da forte alta das ações da Companhia Vale do Rio Doce ¿ impulsionada pelo reajuste de 71,5% nos preços do minério ¿ a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 0,42%.