Título: NOVO LIVRO DO PAPA GERA POLÊMICA
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Fonte: O Globo, 23/02/2005, O Mundo, p. 29

O novo livro do Papa João Paulo II está sendo lançado hoje em todo o mundo. Mas antes mesmo que chegasse às livrarias já despertava muita polêmica. Apresentado ontem em Roma, ele chama o aborto de ¿extermínio legal¿, relacionando-o à matança de judeus pelo nazismo, e relaciona o casamento entre homossexuais a uma ¿nova ideologia do mal¿.

Em ¿Memória e identidade¿ (Editora Objetiva), o Papa se mostra convencido de que o turco Mehmet Ali Agca, que tentou matá-lo em 1981, não agiu sozinho e sugere que o antigo bloco comunista estaria por trás de um complô para assassiná-lo. O Papa ¿ que recebeu ontem Ivo Sanader, o primeiro-ministro da Croácia, na primeira audiência com um político desde que deixou o hospital, há duas semanas ¿ é também o tema de ¿João Paulo II: uma biografia¿ (Editora Record), de Bernard Lecomte, lançado esta semana no Brasil.

Livro se baseia em reflexões sobre o bem e o mal

Depois de citar comunismo e nazismo, João Paulo II escreve no capítulo ¿Ideologias do mal¿: ¿Resta ainda o extermínio legal de seres humanos nascidos e ainda não nascidos; trata-se de mais um caso de extermínio decidido por parlamentos eleitos democraticamente, apelando ao progresso civil das sociedades e da Humanidade inteira.¿

¿ A Igreja Católica não compreendeu ou não quer compreender que há uma enorme diferença entre um genocídio em massa e o que as mulheres fazem com seus corpos ¿ criticou Paul Spiegel, presidente do Conselho Central de Judeus na Alemanha.

Na apresentação da obra, o cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, negou que o Pontífice tenha feito a comparação:

¿ O Papa não coloca no mesmo plano a Shoah (Holocausto) e o aborto, mas chama a nossa atenção para não cairmos nas tentações permanentes da Humanidade. Até nos sistemas liberais, não somos imunes ao mal e isso acontece também nas democracias ¿ disse Ratzinger.

¿Memória e identidade¿ relata conversas de João Paulo II com dois amigos filósofos poloneses, Jozef Tischner e Krzysztof Michalski, no jardim da residência de verão de Castel Gandolfo, em 1993.

¿ São reflexões genéricas entre dois milênios que o Santo Padre fez, mas se referem a fatos específicos que marcaram a segunda metade do século XX. O Papa propôs a principal pergunta: ¿Por que o mal?¿ Ele questiona o fundo, quer saber a raiz ¿ comentou o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Vals.

João Paulo II também faz duras críticas ao homossexualismo, ao divórcio e ao amor livre: ¿Penso nas fortes pressões do Parlamento Europeu para que as uniões homossexuais sejam reconhecidas. (...) É lícito e mesmo forçoso se perguntar se aqui não está atuando mais uma ideologia do mal, talvez mais astuciosa e encoberta, que tenta servir-se, contra o homem e a família, até dos direitos do homem.¿

No último capítulo, fala do atentado que sofreu na Praça de São Pedro, em 13 de maio de 1981. João Paulo II relatou que estava ¿já do outro lado¿, mas que sabia que ia sobreviver.