Título: Saraiva Felipe derrota governistas e é eleito novo líder do PMDB na Câmara
Autor:
Fonte: O Globo, 24/02/2005, O País, p. 4

Com o apoio da ala oposicionista do PMDB, o deputado Saraiva Felipe (MG) foi eleito ontem o novo líder do partido na Câmara, impondo, assim, mais uma derrota ao Palácio do Planalto. Sua escolha ocorreu em reunião boicotada pelos governistas, mas que teve a presença da maioria da bancada, 48 dos 85 deputados. O novo líder, que também é presidente do PMDB em Minas, foi eleito em votação secreta com participação de 45 deputados, dos quais teve o voto de 43.

Saraiva disse que não usará o cargo para fazer oposição ao governo e lembrou que, em 2002, fez campanha nos dois turnos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar disso sua eleição é um revés para a articulação política do governo, pois Saraiva assumiu compromisso de não agir como porta-voz dos interesses do executivo na bancada. A substituição de José Borba (PR) na função é uma derrota política do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, pois revelou sua falta de liderança sobre a maioria dos deputados.

¿ Não, não sou de oposição. Nem assumi compromisso com a oposição. Mas não haverá mais alinhamento automático nas votações com a posição do governo. Não votaremos no escuro ¿ disse Saraiva Felipe.

Disputa interna no PMDB não acaba com eleição

Mas a disputa interna no PMDB não acabou com a escolha do novo líder. Os caciques do partido continuam negociando uma pacificação. Antes da votação, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), tentou negociar um entendimento entre Borba e Saraiva. O acordo envolvia a desistência de ambos, abrindo espaço para a escolha de um terceiro nome. Borba não concordou e a proposta sequer foi apresentada a Saraiva.

Na reunião, os oposicionistas mudaram o regimento interno da bancada, dificultando a ação dos governistas para retomar o poder. Foi decidido que o líder da bancada somente poderá ser escolhido em votação secreta. Borba disse que vai reagir, mas que ainda não sabe como:

¿ O jogo começou agora. Vamos ao jogo. Farei tudo o que for possível e cabível.

Um mineiro sempre na oposição

BRASÍLIA. Peemedebista autêntico, filiado desde 1979 ao antigo MDB, o mineiro José Saraiva Felipe, de 52 anos, está em seu terceiro mandato de deputado federal. Neste período foi aliado do governo apenas no curto governo Itamar Franco, com quem tem fortes ligações políticas e de amizade. No governo Fernando Henrique era da ala oposicionista do PMDB. Agora, embora tenha votado e feito campanha para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está de novo na ala do partido que faz oposição ao Planalto. Médico com especialização em saúde pública, Saraiva Felipe foi secretário estadual de Saúde entre 1991 e 1994.

PAULO ROCHA

`Temos responsabilidade com a governabilidade¿

Mesmo sendo do Campo Majoritário, o novo líder do PT, Paulo Rocha (PA), não é garantia de que o partido dará apoio automático às propostas do governo. Um dos mais experientes da bancada, ele é considerado até pela esquerda, com quem negociou o veto à autonomia do BC, o nome ideal para liderar neste momento.

O que muda na ação da bancada do PT com a eleição de um novo líder?

PAULO ROCHA: Vamos organizar a bancada para que ela participe mais do debate e para que todos tenham visibilidade. E reorganizar o processo decisório interno para que ele seja mais ágil e valorize o trabalho dos núcleos temáticos da bancada.

Por que o senhor assumiu o compromisso, com a esquerda petista, de considerar inoportuno o envio de uma proposta de autonomia operacional do Banco Central?

ROCHA: Há uma divergência na bancada. Uma boa parte da bancada é a favor da autonomia. Outra é contra a proposta. Assumi um compromisso que expressa a média das opiniões. O papel do líder é expressar a média. Neste momento temas que dividem a bancada não são adequados.

Com esta atitude também se delimita a diferença entre ser líder de partido e líder de governo?

ROCHA: Sou líder da bancada do partido. Somos o principal partido da base e o partido do presidente e naturalmente temos que levar isso em consideração, temos responsabilidade com a governabilidade. Mas o partido também tem posição política e pode, em determinado momento, estar diferenciada do governo.

O senhor também quer um petista no Ministério da Coordenação Política?

ROCHA: É verdade que existe este tipo de opinião na bancada. Mas esta decisão é de responsabilidade do presidente Lula. É preciso afinar a relação entre a articulação política e a bancada do PT e a base governista.

Qual a posição do PT sobre a MP 232?

ROCHA: Do jeito que ela está aí, nós não concordamos em aprová-la.