Título: Apenas quatro fiscais para controlar reserva
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Fonte: O Globo, 24/02/2005, Rio, p. 16

Cercada por populações carentes da Baixada Fluminense, de Petrópolis, Miguel Pereira e Paty do Alferes e com incontáveis trilhas de acesso, a Reserva Biológica do Tinguá conta apenas com quatro fiscais do Ibama para garantir sua proteção. Reconhecida pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, a maior reserva do estado fica na Serra do Mar e protege uma amostra representativa da Floresta Atlântica, com recursos hídricos que abastecem 80% da população da Baixada Fluminense.

O presidente em exercício do Ibama, Luiz Fernando Merico, e o gerente executivo do órgão no Rio, Edson Bedim de Azeredo, reconhecem que a reserva necessita de reforço de pessoal e veículos para a fiscalização da área de 27 mil hectares, que sofre com atividades clandestinas de caça e exploração de palmito. Sem saber precisar datas, Edson afirmou que existe um projeto de reestruturação da reserva, que prevê licitação para compra de equipamentos e reforço de pessoal.

Plano de manejo está em fase final

Segundo Luiz Fernando, já está em processo de finalização (ainda sem data acertada) o plano de manejo para a Reserva do Tinguá. Esse plano, que está sob avaliação técnica da equipe de ecossistema do Ibama, vai estabelecer o que será permitido e em que trechos da reserva, como as áreas de visitação e pesquisa, entre outras atividades.

¿ Lamentamos a morte do ambientalista. Mas essa tragédia não significa uma falência da política ambiental no estado. Pelo contrário, trata-se de uma resposta a essas ações ambientais. Essa tragédia só vem reforçar a luta ambiental no Rio de Janeiro ¿ disse o presidente em exercício do Ibama, acrescentando que o órgão enfrenta atividades de caça e extração clandestinas também em Itatiaia e na Bocaina.

A Reserva do Tinguá abriga o menor anfíbio do mundo já descrito: o sapo-pulga. Grandes mamíferos como a onça-parda e outras espécies ameaçadas de extinção, típicas de Floresta Atlântica, encontram refúgio na região preservada. São antigas as denúncias sobre a atuação de palmiteiros e caçadores na unidade, que há anos também sofre com o desmatamento causado por obras irregulares.

A reserva foi criada em 1989. A área tem um relevo acidentado, com escarpas cortadas por rios. Na área, destaca-se o Maciço do Tinguá, uma montanha de 1.600 metros de altitude. A Reserva Biológica do Tinguá foi criada para proteger a Floresta Atlântica e os recursos hídricos na região. Ela está localizada a 70 quilômetros de capital e a 16 da sede do município de Nova Iguaçu, limite norte da Baixada Fluminense. Cinco estradas permitem o acesso à reserva, através de Vila de Cava, distrito de Nova Iguaçu.

Espécies como jequitibás, sapucaias, guapuruvus, jatobás, quaresmeiras e orquídeas são encontradas na região em abundância. A reserva apresenta uma fauna bastante diversificada, destacando-se dois grupos: aves, com 296 espécies, e anuros (sapos, rãs e pererecas), com 52 espécies.

A região sofre uma grande pressão devido ao uso de lugares de captação de água e das cachoeiras próximas à unidade como área de lazer. Várias piscinas artificiais foram feitas por represamento ao longo do Rio Tinguá. A proteção da reserva, segundo especialistas, é de vital importância para a conservação dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de parte do Rio de Janeiro e de quase 80% da Baixada Fluminense.

Chefe da reserva diz que seriam necessários 20 fiscais

Tinguá sofre com a falta de fiscalização. O chefe da reserva, Luís Henrique Teixeira, diz que seria necessário ter uma equipe de pelo menos de 20 homens ¿ em vez dos quatro atuais ¿ para garantir uma boa fiscalização da área.

¿ Uma maior fiscalização poderia combater os principais problemas enfrentados hoje na reserva, que são a caça, o corte de palmito e a especulação imobiliária ¿ comentou Luís Henrique.

Em Petrópolis, a reserva biológica vem sendo degradada por caçadores e até por excursionistas, especialmente no Rocio. A presença de armadilhas na região vem sendo denunciada há pelo menos um ano pela Associação de Moradores do Rocio. O entorno da reserva também está sendo degradado. Em novembro do ano passado, fiscais do Ibama interditaram um areal clandestino vizinho à reserva, em Caxias. No local foram encontrados duas dragas, um caminhão e um trator.