Título: AUSÊNCIA DE RAINHA HUMILHA CHARLES
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Fonte: O Globo, 24/02/2005, O Mundo, p. 32

Ainda que assessores da família real tenham passado o dia de ontem tentando arrefecer os ânimos da mídia e do público, o anúncio de que a rainha Elizabeth II não vai à cerimônia civil do casamento do príncipe Charles com Camilla Parker Bowles (testemunhará apenas a bênção a ser dada pelo arcebispo de Canterbury) foi vista como uma humilhação do herdeiro do trono do Reino Unido, cujo enlace se transformou numa grotesca comédia de erros.

Ainda mais depois dos rumores de que as ausências não se resumirão à soberana e ao marido, o duque de Edimburgo: os irmãos de Charles, os príncipes Andrew e Edward e a princesa Anne, também não iriam.

Rainha teria se irritado com trapalhadas de assessores

Um comunicado oficial ontem negava que a rainha estivesse esnobando o casamento de seu primogênito, mas o fato é que a soberana, de 78 anos, nunca digeriu muito bem a presença de Camilla na vida de Charles, sobretudo depois de suas escapadas terem vindo a público, no famoso episódio em que a imprensa sensacionalista publicou conversas telefônicas em que o príncipe manifestava o desejo de reencarnar como o absorvente íntimo de sua amante, o que provocou enormes danos à popularidade da família real.

Elizabeth II teria ficado muito mais irritada com as trapalhadas dos assessores de Charles. Nenhum deles lembrou-se de que o Castelo de Windsor, residência oficial da rainha, não tinha licença para realizar casamentos.

Os assessores também não prestaram atenção ao fato de que, se a licença fosse concedida, qualquer plebeu poderia reivindicar o castelo para se casar. A cerimônia foi transferida para o cartório de Windsor e alguns especialistas afirmam que o príncipe e Camilla não podem impedir a presença do público lá.

Isso sem falar nas dúvidas levantadas sobre a legalidade da união, já que o Ato de Casamentos de 1836 proíbe integrantes da família real de se casarem em cerimônias civis ¿ até porque o futuro rei acumulará também o cargo de chefe da Igreja Anglicana.

Comentava-se que o Parlamento terá de aprovar uma legislação especial, mas ontem isso foi refutado por lorde Falconer, a maior autoridade legal do Reino Unido. Num comunicado, ele afirmou que o caso de Charles pode se enquadrar na legislação especial de 1949, que deu amparo às uniões civis britânicas.

A desculpa da rainha, que será a primeira soberana em mais de um século a não comparecer a um casamento da família real, é que sua presença poderia atrapalhar a cerimônia civil.

Soberana foi a segundo casamento da princesa Anne

Mas, como bem apontaram os jornais britânicos ontem, sua ausência vai acabar falando mais alto, ainda mais porque Elizabeth II há alguns anos foi vista sorridente no segundo casamento de Anne, ainda que este tenha ocorrido na igreja.

Segundo Ingrid Seward, editora de ¿Majesty¿, revista dedicada à monarquia, a atitude da soberana deve ser interpretada apenas como uma obediência ao protocolo:

¿ Elizabeth II está agindo como rainha, não como mãe. Essa história do herdeiro do trono se casando num cartório não pega bem para a imagem da família real. Não dá para imaginar a rainha da Inglaterra parada nas escadas do cartório, dá?

A imprensa antimonarquista se diverte. O ¿Guardian¿, por exemplo, dizia que agora só uma briga entre parentes durante a recepção poderá fazer com que o casamento de Charles ganhe um ar ainda mais patético.

Numa entrevista ao ¿Evening Standard¿, o guru da publicidade Max Clifford disse que a polêmica é um desastre de relações públicas para a família real, pois revela uma crise entre o príncipe e a rainha.

Já o ¿Daily Telegraph¿ trouxe a contundente manchete: ¿Rainha esnoba o casamento de Charles¿.