Título: LULA DIZ QUE MANDOU `ALTO COMPANHEIRO¿ SILENCIAR SOBRE CORRUPÇÃO NO GOVERNO FH
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Fonte: O Globo, 25/02/2005, O País, p. 4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, no começo de seu governo, mandou ¿um alto companheiro¿, ¿com uma função muito importante¿ numa instituição, silenciar sobre denúncias de suposta corrupção no governo Fernando Henrique. Ao discursar numa unidade da Petrobras no Espírito Santo, Lula disse que, pouco tempo depois da posse, orientou o ¿alto companheiro¿ a se calar sobre a notícia de que a instituição que assumira estava falida e sofrera com corrupção e privatizações ¿que levaram a instituição a uma quebradeira¿. O presidente não disse a que instituição se referia, mas um assessor do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa disse que a conversa teria sido com ele.

¿ Eu lembro de um momento, logo no início do governo, quando um alto companheiro meu, de uma função muito importante, veio prestar contas de como ele tinha encontrado a instituição em que estava trabalhando. E ele me dizia simplesmente o seguinte: ¿A nossa instituição está quebrada. Estamos falidos. O processo de corrupção que aconteceu antes de nós foi muito grande. Algumas privatizações que foram feitas em tais lugares levaram a instituição a uma quebradeira¿ ¿ relatou Lula, em discurso de improviso.

Lula diz que quis preservar auto-estima do país

O presidente contou então que orientou o ¿alto companheiro¿ a não divulgar o real estado da instituição. Disse que quis, assim, preservar a auto-estima do país, o principal tema do discurso feito ontem.

¿ Eu disse ao meu companheiro: ¿Olha, se tudo isso que você está me dizendo é verdade, você só tem o direito de dizer para mim. Aí para fora você fecha a boca e diga que a nossa instituição está preparada para ajudar no desenvolvimento do país¿. Ele não entendeu. E eu dizia: ¿É isso mesmo. Porque se nós, com três dias de posse, três meses de posse, saímos pelo Brasil vendendo a idéia de que determinadas coisas importantes, em que a sociedade brasileira acredita, e que determinadas instituições das quais a República tanto necessita como uma espécie de alavanca para o desenvolvimento, a gente sai dizendo que estão quebradas, eu me pergunto: que mensagem a gente vai passar para a sociedade, tanto a sociedade interna quanto a externa?¿ ¿ contou o presidente.

A divulgação do situação da instituição só teria sentido, disse Lula, se o objetivo do presidente recém-empossado fosse atacar o antecessor:

¿ Isso poderia ser bom se eu tivesse tomado a decisão de achincalhar o governo que substituí. E tomei uma decisão muito pessoal de que o governo assumisse que o presidente que tinha deixado tinha feito aquilo que ele deveria fazer. E que em vez de eu ficar preocupado com coisas que deixou de fazer, eu deveria me preocupar com o que eu tinha que fazer. Se tinha alguma coisa que não estava funcionando, não era mais da responsabilidade de quem tinha deixado o governo, mas da responsabilidade de quem tinha assumido.

O presidente visitou a unidade da Petrobras em Jaguaré em companhia da ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, do presidente da empresa, José Eduardo Dutra, e do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung.

Ainda atacando o governo anterior, Lula disse que o Brasil poderia ter tido, antes de seu governo, ¿uma posição de destaque maior do que estamos vendo hoje¿, caso governantes que o antecederam tivessem acreditado no país.

Depois de elogiar os trabalhadores brasileiros e os avanços da Petrobras, o presidente definiu-se como ¿o maior vendedor de otimismo que este país já pôde produzir¿, por acreditar em cada gesto que afirma fazer pelo Brasil e porque crê que o país está diante ¿de uma oportunidade histórica que há muitos e muitos anos o Brasil não tem¿. E aproveitou novamente para atacar Fernando Henrique:

¿ A gente poderia lembrar a esperança que foi o Plano Cruzado em 1986. A gente pode lembrar do primeiro sucesso do Plano Real, em 94, e que acabou quando se aprovou a tese da reeleição ¿ disse ele, como exemplos de oportunidades que o país, segundo Lula, jogou fora. ¿ Tudo isso porque um político tem que pensar grande. Pensar grande não permite que um político pense em si mesmo. Pensar grande obriga um político a pensar num país para daqui a 30 anos, 40 anos. É pensar nas futuras gerações e não pensar apenas nas futuras eleições, como normalmente acontece no nosso país.

Assessoria de Lessa confirma conversa

A assessoria do ex-presidente do BNDES Carlos Lessa confirmou que, no início do governo, ele foi orientado pelo presidente a não divulgar a situação financeira difícil da instituição. A assessoria ressalvou apenas que Lessa não disse que o banco estava falido.

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PSDB diz que o presidente confessa crime

BRASÍLIA. Os líderes do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), e no Senado, Arthur Virgílio (AM), reagiram com indignação à afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que teria havido corrupção durante privatizações de empresas públicas realizadas no governo passado. Goldman disse que vai apresentar uma ação por crime de responsabilidade contra o presidente por ele não ter mandado investigar as suspeitas.

No Senado, Virgílio soltou nota sobre as declarações do presidente Lula dizendo que ele fez uma confissão de crime: ¿É de estarrecer a confissão feita hoje pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Espírito Santo, de que recebeu de `um alto companheiro¿ informação de descoberta de corrupção `em processo de privatização¿ e determinou que silenciasse. É confissão de crime. O mais alto magistrado da nação confessa, com desplante incompatível com a sobriedade, ter infringido dispositivo do Código de Processo Penal. Confessa crime de prevaricação¿, diz a nota do líder tucano. E prossegue: ¿Tomou conhecimento de suposta e grave irregularidade na administração pública, em vez de determinar a sua apuração, como era do seu dever, mandou escamotear o fato. Sua declaração é de absoluta irresponsabilidade¿.

Segundo Goldman, Lula passou a ser ¿omisso e um acobertador desse caso de corrupção¿. O líder do PSDB na Câmara disse que um presidente não pode fazer ¿uma afirmação leviana¿, já que não disse onde nem quem teria praticado a corrupção, apenas levantando a suspeita sobre o governo de Fernando Henrique:

¿ A culpa dele é tão grande quanto a do corrupto ¿ disse Goldman, que reafirmou que o PSDB está tomando providências para processar Lula.

A nota de Virgílio conclui dizendo que faltou sobriedade ao presidente Lula: ¿É inaceitável, e até sujeito a impeachment, comportamento como este do presidente da República, que tem de apresentar-se sempre com sobriedade e responsabilidade perante a nação¿.

Clima de campanha para iniciar obras de aeroporto

Presidente faz promessas em Vitória

VITÓRIA. Embora tenha criticado a antecipação da campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início às obras do novo aeroporto da capital capixaba em clima de comício. Discursou ao som da música da campanha de 2002 e fez promessa de caráter eleitoreiro. Lula disse ao governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, que as obras do aeroporto serão aceleradas para que a inauguração ocorra ainda dentro do atual mandato, que se encerra em 2006.

A previsão é de que as obras só sejam concluídas no início de 2008. Em seu discurso, Hartung disse que ficou ¿com o coração apertado¿ quando foi informado de que as obras levariam três anos. Segundo Hartung, durante o trajeto entre Jaguaré (outra cidade do Espírito Santo visitada ontem por Lula) e Vitória o presidente o tranqüilizou.

¿ O presidente me disse: ¿nada disso de três anos¿. Vamos inaugurar dentro do seu e do meu mandato. Vamos fazer as obras em dois anos ¿ afirmou o governador, que concluiu o discurso aos gritos de ¿viva Lula, viva o Espírito Santo e viva o Brasil.¿

Antes disso, porém, o presidente Lula foi recebido sob protestos, quando chegou à capital pela manhã. Ele passou por uma manifestação nas ruas contra a reforma sindical e contra a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômico) que proibiu a compra da Garoto, empresa capixaba, pela Nestlé.

Mas o presidente terminou o dia em clima de campanha, em meio a militantes petistas, que fizeram questão de cumprimentá-lo. Bastante à vontade, Lula chegou até a ensaiar passos de congo, uma dança típica capixaba. No discurso, o presidente elogiou os últimos prefeitos de Vitória, desde Victor Buaiz, passando por Paulo Hartung, e, inclusive, citando o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas. E brincou com os presentes reproduzindo a máxima preferida dos nascidos no Espírito Santo:

¿ Moqueca é capixaba, o resto é peixada.

O embaixador Rubens Ricupero protagonizou o chamado ¿escândalo da parabólica¿, em setembro de 1994. Ministro da Fazenda no governo Itamar, Ricupero defendia o então candidato Fernando Henrique Cardoso e, numa conversa com o repórter Carlos Monforte, da Rede Globo, acabou deixando escapar a frase ¿O que é bom a gente divulga; o que é ruim a gente esconde". Eles não sabiam que a entrevista já estava sendo transmitida para todo o país. O embaixador acabou perdendo o cargo. Lula era o principal adversário de FH.