Título: Sem verba, Exército pode suspender operações
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Fonte: O Globo, 25/02/2005, O País, p. 10
O comandante militar da Amazônia, general Cláudio Barbosa de Figueiredo, queixou-se da falta de recursos para custear as operações do Exército em quinze cidades do Pará. Ele afirmou que, se a verba não for repassada rapidamente, as ações serão suspensas.
¿ Não dá para ficar nem um dia a mais, porque não recebemos recurso algum. É só promessa por enquanto. Estamos queimando nossas gorduras. A promessa é que o dinheiro virá. Caso contrário, não há condição de ficar ¿ disse o general.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que vai enviar mais 60 policiais federais para o Pará para aumentar as buscas a criminosos foragidos. Bastos também deve mandar nos próximos dias ao Pará 400 homens da Força Nacional. Eles deverão reforçar o sistema de segurança pública em áreas críticas.
O comandante do Exército afirmou que os recursos orçamentários do Exército são insuficientes e não prevêem ações como as realizadas no Pará. Por causa das dificuldades financeiras, dificilmente o governo vai atender à reivindicação de parlamentares, entidades da sociedade civil e sindicatos rurais de manter o Exército na região durante todo o ano de 2005. Representantes desses setores reuniram-se com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, na terça-feira, e fizeram esse pedido. Mas o general deu a entender ontem que a hipótese é remota.
¿ A tropa não pode ficar a vida toda fora dos quartéis. Essa presença, durante um ano, é muito difícil porque é muito cara. Mas se vierem a ordem e recursos, claro que nós fazemos ¿ disse o general Figueiredo.
Segundo general, população se acalmou com Exército
O custo previsto para as operações no Pará é de R$1 milhão por mês. O comandante disse que tem 1.973 homens atuando fora de suas bases. Outros dois mil estão nos quartéis da região e podem ser acionados a qualquer momento. Figueiredo afirmou que o mais caro, porém, é o gasto com helicópteros. Há sete desses aparelhos em operação na região. O custo da hora de vôo é de cerca de US$4 mil.
O general fez um balanço dos oito primeiros dias de ação no Pará. Ele disse que, até agora, o saldo é muito positivo porque a população se acalmou com a presença dos militares.
¿ A população está com grande esperança de que as tensões acabem. Ninguém gosta de viver sob esse clima de tensão. O povo está ansioso para que os problemas sejam resolvidos.
O comandante esteve ontem em Novo Progresso e reuniu-se com madeireiros que mês passado organizaram uma manifestação que resultou em interdição de estradas. O Exército designou 40 homens para acompanhar, no município, as ações de fiscais do Ibama e do Incra. Segundo o general, não há previsão para a permanência do Exército no Pará. Ele acredita que, se os órgãos do governo atenderem às reivindicações da população, não será necessária a presença das tropas.
Rossetto anuncia glebas para assentar famílias
Governos federal e do Pará vão implantar cadastro de terras
BELÉM e BRASÍLIA. Uma vitória da legalidade. É assim que o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, avaliou ontem a emissão de posse ao Incra de três áreas no município de Anapu, no Pará, que irão beneficiar diretamente 300 famílias. As áreas serão destinadas à implantação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), uma das principais bandeiras de luta da missionária Dorothy Stang. Rossetto vai fazer o anúncio hoje no mesmo lote de terras onde a freira foi assassinada.
O ministro esteve em Belém para uma reunião com o governador do Pará, Simão Jatene, e anunciou que os governos estadual e federal vão trabalhar juntos para a implantação de um cadastro único de terras do Pará. A proposta foi apresentada pelo ministro a Simão Jatene.
Durante o encontro, Rossetto disse que pretende estabelecer parcerias com as administrações estaduais e municipais para identificar quais são as áreas pertencentes à União e quais as que estão nas mãos de grileiros. A intenção é não permitir a ocupação ilegal de áreas federais na Amazônia. Rossetto anunciou oficialmente o novo superintendente do Incra no Pará, Inocêncio Gasparin, e o delegado federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Carlos Guedes.
Stédile culpa governo por conflitos no Pará
À tarde, o ministro participou de uma audiência pública no município de Paraupebas para discutir os conflitos agrários e viajou à noite para Altamira, de onde segue para Anapu. No município, Rossetto anuncia a emissão de posse de glebas. A primeira é o lote 55 na gleba Bacajá e dos lotes 108 e 130 da gleba Belo Monte.
Em Brasília, o dirigente do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, culpou ontem a lentidão do governo na implantação da reforma agrária pelos conflitos no Pará, que acabaram levando ao assassinato da missionária. Stédile também fez duras críticas à decisão do Ministério da Agricultura de priorizar os investimentos para o agronegócio. Na sua opinião, o agronegócio não é uma solução para os problemas sociais, como a pobreza e o desemprego.
¿ A morte da irmã Dorothy reflete o ritmo muito lento que o governo impôs à reforma agrária. A leitura que os fazendeiros mais truculentos do interior do país fazem é de que, se o governo não está se mexendo, podem fazer o que querem. De certa forma, a lentidão do governo estimula a impunidade.