Título: `É DEMAGOGIA. ELES ESTÃO DOIDOS PELO AUMENTO¿
Autor:
Fonte: O Globo, 25/02/2005, O País, p. 12

Numa contra-ofensiva às críticas por defender o aumento dos subsídios dos deputados de R$12,8 mil para R$21,5 mil e trabalhar para aprová-lo, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), chamou de demagogos os partidos que estão tirando posições contra o reajuste. Segundo ele, todos estão ¿doidos¿ pela equiparação dos vencimentos dos deputados aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal e ela será aprovada na Câmara. Seis partidos já se posicionaram contra o aumento.

¿ Isso é um problema desses partidos que estão fazendo apenas demagogia. Eles estão doidos por esse aumento. Não vai perder (em plenário) que eu tenho certeza, porque demagogos têm poucos aqui na Câmara ¿ disse Severino.

Câmara tem 315 indecisos em relação ao reajuste

PSDB, PT, PPS, PDT, PSB e PCdoB já apresentaram documentos ou têm posição de bancada contra o aumento. Suas bancadas somam 198 deputados, e os líderes lutam para evitar que o tema entre na pauta na próxima semana. Estão indefinidos 315 deputados. O segundo-vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), está colhendo assinaturas a pedido de Severino para dar urgência ao projeto.

Severino diz não temer o desgaste de uma rejeição ao aumento na votação pelo plenário do Senado, onde o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) deixou claro ser contra o reajuste.

¿ Não importa a posição do Senado. Eu tenho responsabilidade com esta Casa. Quem está na chefia do Poder Executivo (sic) é Severino Cavalcanti e, portanto, irei botar (para votar) ¿ disse, atrapalhando-se com suas funções.

Ele voltou a defender que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dê mais espaço ao seu partido, o PP, no Ministério.

¿ Se o presidente Lula atender ao meu apelo, ficaria muito feliz que desse os dois ministérios ao meu partido.

Para ele, o PP deve ganhar os ministérios pelo apoio ao governo nestes dois primeiros anos:

¿ O partido deu, durante dois anos, apoio ao presidente Lula. Seus projetos foram aprovados graças ao apoio do partido. Tem o presidente que ser grato. E ele é, não tenho dúvida que o PP terá representação.

COLABOROU Ilimar Franco

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Maremoto fiscal

O PRESIDENTE da Câmara, na tentativa de tornar palatável o aumento dos subsídios dos deputados ¿ o seu eleitorado em Brasília ¿ se dispõe a cortar custos na Casa para financiar os R$130 milhões por ano de gastos adicionais, com dinheiro do contribuinte, que a medida provocará.

SEVERINO CAVALCANTI conseguiria amenizar as críticas ao reajuste se a questão se resumisse ao que poderá acontecer com o orçamento da Câmara dos Deputados.

O PROBLEMA é outro, e bem grave: por causa dos gatilhos existentes na legislação, o aumento dos subsídios dos parlamentares forçará à revisão dos salários do presidente da República, ministros, deputados estaduais e vereadores, sem contar prováveis castas de servidores públicos.

POR MAIS que ele corte gastos na Câmara, Severino causará um maremoto fiscal.

PEC paralela deve ser votada semana que vem

BRASÍLIA. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), aproveitou ontem a presença de aposentados em sessão solene que presidia e assumiu o compromisso de pôr em votação, semana que vem, a emenda constitucional da Previdência, mais conhecida como PEC paralela da Previdência. O Palácio do Planalto não tem interesse na votação. Severino tomou a decisão sem consultar os líderes, nem os do governo. Indagado se não temia resistência, garantiu:

¿ Esta Câmara vai trabalhar e teremos que fazer jus às expectativas do povo brasileiro. A PEC paralela entrará em votação na próxima semana. Se tem resistência ou não, vai ser votada na próxima semana.

A PEC paralela flexibiliza algumas regras da reforma da Previdência, em vigor desde janeiro do ano passado. O governo teve que concordar com o texto para garantir a aprovação da reforma, em 2003. Ao voltar à Câmara, no entanto, a emenda não teve tratamento prioritário. Segundo o líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP), há interesse do governo em finalizar a votação da PEC paralela.

¿ O que não queremos é destaques maldosos que desfigurem a reforma ¿ diz Luizinho.

O ministro da Previdência, Amir Lando, admitiu que alguns pontos precisam ser mudados:

¿ É a decisão de um poder. Nada a comentar. O que resta fazer é aperfeiçoar a PEC.

Cesar: `Verba de gabinete é ridícula¿

Pefelista diz que aumento de subsídio é questão de foro íntimo

BRASÍLIA. O prefeito do Rio, Cesar Maia, apoiou ontem o aumento na verba de gabinete dos deputados, planejado pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Cesar, presidente interino do PFL, classificou de hipocrisia a decisão do PSDB de fechar questão contra a proposta. Em entrevista ao programa "Jogo do poder", da CNT, ele disse que considera o aumento inoportuno, diante do aperto fiscal que o país enfrenta. Mas afirmou que uma verba de R$40 mil para os gabinetes não seria exagerada. Hoje, a verba é de R$35.350.

¿ A verba de gabinete é ridícula. Acho que R$40 mil não é exagero, já que os parlamentares precisam manter dois gabinetes: um em Brasília e outro em seu estado de origem.

O PFL não fechará questão sobre o aumento do subsídio para R$21,5 mil:

¿ Essa é uma questão de foro íntimo, não é uma questão partidária ¿ disse Cesar.

Com a saúde na corda bamba

Excesso de atividade preocupa família de Severino

BRASÍLIA. O ritmo intenso de trabalho e o movimento frenético do gabinete nos últimos dias estão preocupando a família do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que teme por sua saúde. Com 74 anos, Severino sofre de diabetes e colocou um marca-passo há cerca de um ano. O chefe do departamento médico da Casa, Henrique Hargreaves Filho, faz um acompanhamento especial de Severino e já aumentou a medicação para controle da taxa do diabetes, alterada desde o dia da eleição.

Se ele fica um tempo maior sem se alimentar, os assessores levam frutas no gabinete e uma enfermeira é chamada para medir a taxa de glicose. Severino sentiu um mal-estar na tarde de terça-feira, quando parlamentares governistas e de oposição do PMDB discutiram na sua frente. Nervoso, ele pediu respeito e em seguida foi atendido para medir a pressão.

¿ Tirei a pressão e estava boa, só que a glicose estava um pouco alta, 207. No dia da eleição, naquela confusão a taxa foi a 300. O normal é 110 ¿ contou o presidente.

Severino tem dormido muito pouco, recebido visitantes até de madrugada em casa e está muito excitado com a nova rotina.

Escancaradas, as cinco salas que compõem o gabinete da presidência estão permanentemente intransitáveis, tamanha é a romaria de parlamentares e ministros. Esta semana, por três vezes Severino convocou reuniões com os líderes para definir a pauta de votações, mas não conseguiu realizá-las: não tinha cadeiras livres e o presidente não conseguiu se livrar dos visitantes comuns.