Título: `Não há estratégia porque a situação é inédita¿
Autor:
Fonte: O Globo, 25/01/2005, O Mundo, p. 32 e 33
O jornalista espanhol Rossend Domenech, de 59 anos, vive há 35 anos na capital italiana, onde trabalha como correspondente do jornal ¿El Periodico¿, da Espanha. É um dos maiores especialistas no que diz respeito a assuntos do Vaticano. Ele é autor do livro ¿Marcinkus, a aventura das finanças do Vaticano¿, publicado em 1980, sobre a situação econômica do Vaticano.
`A Igreja perdeu o contato com a sociedade¿
Diante do contínuo agravamento da saúde do Papa, neste momento quem comanda o Vaticano?
DOMENECH: Neste momento, a Igreja Católica está se dividindo em feudos, como na Idade Média, quando havia feudos como núcleos que administram a si mesmos. Por exemplo a Igreja francesa, a alemã e outras pelo mundo cuidam de si mesmas com os princípios e documentos que já existem. Dentro do Vaticano acontece o mesmo: cada prefeito de congregação administra seu ministério segundo as regras já existentes. Claro que isso não se refere às coisas importantíssimas. Por exemplo, a nomeação de um bispo só o próprio Pontífice pode fazer.
Caso um conclave aconteça proximamente, qual seria o possível cenário para a sucessão de João Paulo II?
DOMENECH: Eu já acompanhei dois conclaves. A imprensa costuma especular sobre os candidatos à sucessão. Como disse o cardeal Acchille Silvestrini, antes de tudo é preciso ter um objetivo, um programa, para depois encontrar o candidato. Deverá ser uma pessoa que corresponda ao programa estabelecido anteriormente pela maioria dos cardeais. Neste longo pontificado de João Paulo II, a Igreja perdeu o contato com a sociedade moderna. O Papa teve muito sucesso pessoal, mas não resolveu alguns temas da reforma estabelecida pelo Concílio Vaticano II. O ponto-chave para intuir quem sera o próximo Papa é saber o que os cardeais querem. Se quiserem refletir sobre os rumos da Igreja, podem optar por um Papa mais idoso, uma espécie de sucessor transitório. Se acharem que a atenção da Igreja deve se dirigir a pontos específicos do mundo, como América Latina ou Ásia, podem eleger um Papa estrangeiro, ou de qualquer outro país da Europa. Os cardeais querem a rígida ortodoxia proposta pelo cardeal conservador Josef Ratzinger, ou uma linha mais progressista que aproxime o rebanho dos católicos dispersos pelo mundo?
O cardeal que anunciará o sucessor
CIDADE DO VATICANO. O cardeal chileno Jorge Arturo Medina Estevez, de 79 anos, foi nomeado pelo Papa João Paulo II novo cardeal protodiácono, que num eventual conclave tem a função de anunciar ao mundo que a Igreja Católica tem um novo Papa. A carta do Pontífice foi lida ao mesmo tempo em que ele era internado ontem no Hospital Gemelli.
Medina Estévez substitui o cardeal italiano Luiggi Poggi, de 87 anos. O anúncio foi feito pelo Papa, em carta ao cardeal secretário de Estado, Angelo Sodano, que presidiu em seu nome um consistório ¿ assembléia de cardeais que geralmente é presidida pelo Papa ¿ para discutir a canonização de cinco beatos, marcada para 23 de outubro. Medina Estévez nasceu em Santiago. Foi ordenado cardeal pelo Papa em consistório em 1998 e é ministro eclesiático jubilado da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina de Sacramentos.