Título: Operação anticrise pode influir na reforma
Autor: Isabel Braga e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 01/03/2005, O País, p. 8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que a reforma ministerial pode sair bem mais cara do que o previsto. Além de Lula, ministros e assessores palacianos já sabem que a operação desencadeada para sufocar a crise provocada pela declaração que mandara abafar denúncias de corrupção do governo Fernando Henrique vão entrar nas negociações para composição do primeiro escalão do governo.

A avaliação no Planalto é de que o governo deve ficar devedor da decisão do novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que está inclinado a arquivar o processo por crime de responsabilidade contra Lula apresentado pela oposição. Lula ficará ainda devedor da solidariedade do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que saiu imediatamente em sua defesa.

A constatação é de que Lula entra para discutir a reforma ministerial numa posição bem menos confortável do que tinha há um mês. Por outro lado, o clima de crise da última sexta-feira se arrefeceu. Operadores políticos do governo telefonaram para os aliados para medir o grau de fidelidade da base governista. O chefe da Casa Civil, José Dirceu, falou com aliados no fim de semana, antes da viagem aos EUA, inclusive com a cúpula do PP. O resultado dessa conversa já se refletia ontem nas declarações do presidente do PP, Pedro Corrêa (PP-PE).

¿ Estão fazendo uma tempestade num copo d¿água. Não faz sentido dar prosseguimento a esta história de crime de responsabilidade contra o presidente Lula. Foi um deslize verbal. Se for assim, vai ter que processar todo mundo. Tenho certeza de que Lula não terá dificuldades com Severino (Cavalcanti) ¿ disse Corrêa.

O ministro Dirceu marcou uma reunião com Corrêa para quinta-feira. O partido de Severino exalta seu apoio e não esconde o desejo de ter mais espaço, dois ministérios, de preferência. Justifica a reivindicação alegando que o partido é um aliado fiel.

¿ Hoje o governo é muito mais devedor do PP do que o contrário. Se Lula quiser um governo de coalizão, terá que levar em conta o tamanho do PP ¿ avisou Corrêa.

O presidente Lula disse que pretende concluir a reforma ministerial de dez a 15 dias.