Título: Supermercados abrem o caixa
Autor: Ledice Araujo
Fonte: O Globo, 01/03/2005, Economia, p. 23

O setor de supermercados voltou a esquentar no Rio de Janeiro. A movimentação envolve os dois maiores grupos com atuação no estado: a Sendas Distribuidora, com 110 lojas, que acabará com a bandeira ABC Barateiro na capital e vai investir R$ 60 milhões na reforma e modernização das filiais Sendas; e Carrefour, que fechou quatro lojas no Rio, mas planeja voltar a se expandir este ano. O plano do Carrefour é aplicar R$ 600 milhões em abertura e remodelação de lojas no país, e na construção do Centro de Distribuição de Duque de Caxias.

A rede Sendas Distribuidora, criada em fevereiro de 2004 com a incorporação das Sendas pelo Grupo Pão de Açúcar, passa por um processo de reestruturação que será concluído este ano. O objetivo é melhorar o atendimento, com a reforma das instalações e a adequação do sortimento de produtos. Nesse reposicionamento, os seis hipermercados com a bandeira Bon Marché já viraram Extra em março do ano passado; e, das 18 lojas do ABC Barateiro, ficarão apenas as 12 das regiões Serrana e dos Lagos.

Carrefour planeja faturar mais por loja

As filiais de Icaraí e São Gonçalo já mudaram para Sendas em novembro. Amanhã será a vez das lojas das ruas de Santana, na Cidade Nova, e Siqueira Campos, em Copacabana. Ainda na capital, na próxima semana as filiais do ABC Barateiro de Botafogo e Vila Isabel também passam a se chamar Sendas. As mudanças incluem a introdução de serviços como drogaria, rotisseria e peixaria e seções de beleza, perfumaria e hortigranjeiros com mais variedade.

A Sendas Distribuidora faturou R$ 3,19 bilhões em 2004 ¿ 20% do que abocanhou o Grupo Pão de Açúcar (R$ 15,29 bilhões) com suas 551 lojas no país. Com a reestruturação interna, a empresa espera obter o crescimento real de 2% a 3% este ano. Não há planos de fechar lojas.

¿ Estamos arrumando a casa para tornar as lojas mais produtivas e rentáveis. Nesse ajuste, o foco é a mulher de classe média, aquela que trabalha e que também administra a tarefa de dona de casa ¿ explicou Hugo Betlhem, diretor geral da Sendas Distribuidora e do CompreBem (rede com 165 lojas).

A retomada dos investimentos do setor está sendo estimulada pelo crescimento de 2,53% nas vendas em 2004. O faturamento totalizou cerca de R$ 89 bilhões em 72 mil supermercados no país. O resultado representou uma recuperação, após a queda real de 4,7% no ano anterior. Mesmo com o enxugamento, o Carrefour manteve-se na vice-liderança do ranking do setor no Brasil. Em 2004, cresceu 9,9% e faturou cerca de R$ 12,1 bilhões.

O grupo francês opera com 175 lojas. Do ano passado para cá fechou três hipermercados no Rio ¿ Cidade de Deus e Guadalupe em 2004 e Usina este mês. A loja com a bandeira Champion em Vista Alegre, no subúrbio do Rio, encerrou as atividades em março. Foi reaberta em outubro como Prezunic, rede comandada pelos ex-donos dos supermercados Continente.

As lojas Carrefour fechadas ficam em regiões carentes ou perto de favelas, e algumas já haviam enfrentado saques. Assessores da empresa garantem que a suspensão das operações não foi por motivada por problemas de violência, mas faz parte da reestruturação, que inclui o fechamento de filiais deficitárias.

O Carrefour abriu apenas dois hipermercados em 2004: Manaus e Recife. Para 2005, o plano é de pelo menos oito lojas, que deverão empregar cerca de dois mil trabalhadores. O grupo tem 43 mil funcionários e investe na construção do centro em Duque de Caxias, que deve ser aberto até abril. Sua operação visa a melhorar a logística de entrega de mercadorias e permitirá a abertura de 500 empregos.

O maior investimento do Carrefour no Rio foi a compra das marcas Continente, Rainha e Dallas, em novembro de 2000. Apos criar a bandeira Champion, para atender às classes B e C, sem alarde fechou 14 lojas não lucrativas em 2003, que foram devolvidas aos ex-donos.

A empresa investiu num processo de reposicionamento, revendo seu modelo de gestão para aumentar o faturamento por loja. Até o primeiro trimestre de 2003, o grupo operava com 193 lojas no país. Segundo frisou um líder do grupo na época, não há a preocupação com o fato de a empresa estar em segundo lugar no ranking do país. A tarefa principal é cortar custos para vender por preços menores.