Título: Governistas contra-atacam com ameaça de CPI
Autor:
Fonte: O Globo, 26/02/2005, O País, p. 8

A reação combinada do governo às críticas à confissão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que abafara denúncias de corrupção no governo Fernando Henrique foi partir para o ataque, sugerindo que, se a oposição levar o episódio ao extremo, ele resultará numa CPI para investigar as privatizações do governo passado. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, falou em uma CPI para investigar supostas irregularidades na venda de estatais.

Para Bastos, Lula nada fez de errado, não cometeu ilegalidade e, por isso, nada tem a temer. Quando perguntado se todo o processo poderia resultar numa CPI, respondeu:

¿ Sou a favor de uma CPI para investigar as privatizações do governo Fernando Henrique.

Para o ministro, o presidente apenas voltou a tratar publicamente das mesmas denúncias sobre supostas irregularidades nas privatizações que fez em 1988, quando era candidato à Presidência.

¿ Mas o presidente não fez nada que pudesse ser imputado como um ato ilegal ou do mal. O que ele fez foi, com a sinceridade que o caracteriza, dizer que, em nome da governabilidade, não quis transformar aquela questão que é de polícia ¿ se é que é de polícia, não sei ¿ numa questão política, que pudesse incendiar o país.

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, disse que o presidente não pediu para que as suspeitas de irregularidades fossem ocultadas, mas sim que não fossem tornadas públicas.

¿ O presidente não pediu para ocultar. O presidente pediu para não tornar público. Não tornar público significava não deixar as empresas e os setores vulneráveis, e sim deixar que o Ministério Público, o Tribunal de Contas e a Justiça, como já tinham tomado a iniciativa de investigar, chegassem até o fim em suas investigações.

Ex-aliado de FH socorre Lula

No Senado, a defesa de Lula ficou por conta do novo líder do PT, Delcídio Amaral (MS), que foi diretor da Petrobras no governo Fernando Henrique.

¿ Quando o presidente Lula foi eleito, havia uma preocupação muito grande dos investidores e do mercado. Com base nesses cuidados, o presidente Lula orientou seus principais auxiliares para que assuntos que colocassem algum tipo de preocupação, no que se refere aos mercados, fossem tratados com o devido cuidado. Essa foi a orientação dada, naquela ocasião, ao presidente do BNDES Carlos Lessa ¿ argumentou Delcídio.

O ex-presidente da República e do Senado José Sarney (PMDB-AP) também saiu em defesa de Lula. Disse que considerou desproporcional a reação:

¿ É uma prova da falta de assunto. Mostra pouca consistência por parte da oposição. Foi um comentário ligeiro, sem profundidade.

A proposta da CPI foi defendida também pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, e pelo presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Tomás Balduíno. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Majella, evitou falar sobre Lula. Mas deu o seu recado:

¿ Nosso Senhor falou: a verdade vos libertará. Para esconder a verdade, você vai apelar para muitos outros recursos e, no fim, quem sabe vai agravar a situação da mentira.