Título: Lessa nega ter recebido ordem para se calar
Autor:
Fonte: O Globo, 26/02/2005, O País, p. 10

O ex-presidente do BNDES Carlos Lessa disse ontem que nunca foi orientado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a esconder o que quer que seja sobre eventuais problemas da instituição herdados do governo de Fernando Henrique Cardoso.

¿ Se eu tivesse encontrado indícios de corrupção, comunicaria ao Ministério Público ¿ disse ele. ¿ O presidente nunca me mandou esconder nada.

Lessa reiterou suas críticas à gestão do banco que conduziu o processo de privatização no setor elétrico, afirmando que não houve garantias reais na privatização da Eletropaulo. A crítica, publicada ontem, levou Luiz Carlos Mendonça de Barros, o presidente do BNDES que administrou a privatização da Eletropaulo durante o governo Fernando Henrique, a anunciar que vai processá-lo. Em nota divulgada ontem, Mendonça de Barros afirma que "a falsidade da imputação (de Lessa) decorre do fato de que o financiamento concedido foi garantido pela totalidade das ações adquiridas em leilão, representativas do controle acionário da empresa e, portanto, uma garantia real que correspondia a 200% do valor do empréstimo".

Lessa diz que garantias da privatização não existem

Lessa repetiu ontem que não houve garantias reais:

¿ As garantias estão em Cayman, não existem ¿ disse ele ontem, aludindo a uma posterior subsidiária da empresa americana AES, controladora da Eletropaulo, sediada nas Ilhas Cayman.

¿ O contrato da Eletropaulo foi redigido em português, o valor da transação foi em reais e a Eletropaulo foi vendida para uma empresa brasileira, a Lightgás ¿ rebateu Mendonça de Barros. ¿ E a garantia estava no Brasil.

Mendonça de Barros: "Lessa ignora questões bancárias"

Segundo ele, uma ação simples de execução da dívida da Lightgás, hoje controlada pela AES Elpa S.A., poderia se arrastar na Justiça, e por isto o acordo que Lessa celebrou com a controladora foi um mecanismo mais ágil que ele mesmo, Mendonça de Barros, observou que, se estivesse à frente do banco na ocasião, talvez tivesse feito o mesmo.

¿ Quanto ao fato de o senhor Lessa achar que o BNDES deve seguir uma orientação diferente daquela que seguiu no governo anterior, é um direito dele ¿ disse Mendonça de Barros. ¿ Mas registro que o programa de privatizações foi um mecanismo que, reduzindo a dívida dos estados, abriu caminho para a Lei de Responsabilidade Fiscal, do qual, por exemplo, o governo Lula é beneficiário. O que não é possível é, por divergência ideológica, o governo jogar lama no governo Fernando Henrique. O problema do senhor Lessa é que ele tem total ignorância sobre questões bancárias e contratuais.

Presidente do BNDES em 2002, Eleazar de Carvalho Filho disse ontem que todos os funcionários da instituição foram atingidos pela declaração de Lula:

¿ Dirigentes e funcionários foram atingidos pelo presidente. O BNDES tem mecanismos de controle interno e externo. É uma instituição transparente ¿ disse ele.