Título: PRESIDENTE DA ALERJ, PICCIANI É COMPADRE DE FISCAL PRESO
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Fonte: O Globo, 26/02/2005, O País, p. 11

O Ministério Público Federal vai investigar o envolvimento de fraudadores da Previdência Social com políticos. A prisão de 11 auditores fiscais do INSS, na quinta-feira, reforçou a suspeita de que recursos desviados do instituto estariam financiando campanhas eleitorais. Um dos auditores presos, Arnaldo Carvalho da Costa, trabalhou por 20 dias, em novembro do ano passado. na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), era padrinho de um de seus filhos.

O procurador da República Fábio Aragão disse que há indícios da ligação dos políticos com fraudes no INSS em mais de um caso investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Só que agora, com a prisão dos 11 auditores acusados de lesar a Previdência em R$1 bilhão, o MP abriu um procedimento específico, que terá continuidade mesmo depois de os fiscais presos serem denunciados na Justiça.

¿ Nas várias vezes em que o Ministério Público investigou quadrilhas que atuam no INSS, sempre descobriu que o dinheiro público servia para financiar campanhas eleitorais. Muitas pessoas já presas eram tesoureiras de campanha. Em anos eleitorais aumentava muito o número de fraudes ¿ disse o procurador.

No caso dos fiscais presos na quinta-feira, o elo mais forte é Arnaldo Carvalho da Costa, amigo há mais de 20 anos de Jorge Picciani. O presidente da Alerj, por intermédio de sua assessoria, divulgou ontem duas notas. Na primeira, informa que Arnaldo foi requisitado pela Alerj, em novembro do ano passado, para ajudar na montagem do sistema de gestão fiscal do Tribunal de Contas do Estado (Sigfis). Garantiu que, ao tomar conhecimento da primeira prisão do fiscal, ocorrida em dezembro, tratou imediatamente de exonerá-lo.

Picciani admite ser amigo de auditor preso

Na segunda nota, Picciani admite ser amigo de Arnaldo, mas que desconhecia as suas ¿atividades profissionais¿. O procurador Fábio Aragão disse que a exoneração de Arnaldo, em dezembro, foi feita com data retroativa a um dia antes da prisão.

O MP está pedindo à Justiça que mantenha presos, por mais cinco dias, os 11 acusados. A força-tarefa responsável pela investigação, que além de procuradores da República mobiliza agentes da Polícia Federal e funcionários da Previdência, quer os acusados na cadeia enquanto analisa os papéis e disquetes apreendidos em suas residências.

As investigações apontaram um total de 15 envolvidos, dos quais 11 foram presos temporariamente na quinta-feira (por cinco dias), dois continuavam foragidos até o início da noite de ontem ¿ os auditores Francisco José dos Santos Alves e Paulo José Gonçalves Mattoso ¿ e dois tinham sido apenas indiciados, permanecendo em liberdade. Eles são acusados de favorecer cerca de 140 empresas, cujas dívidas junto à Previdência foram quitadas de forma irregular nos últimos dez anos.

O procurador da República Vinícius Panetto, que atua no caso, disse que as empresas favorecidas estão sendo refiscalizadas.