Título: ARGENTINA CALCULA MÍNIMO DE 70% DE ADESÃO À PROPOSTA DE TROCA DA DÍVIDA
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Fonte: O Globo, 26/02/2005, Economia, p. 26

A Argentina encerrou ontem a operação de renegociação de sua dívida pública num clima de euforia. Segundo uma alta fonte do Ministério da Economia, projeções elaboradas pela equipe do ministro Roberto Lavagna indicam que o piso da taxa de adesão à oferta lançada ao mercado em 14 de janeiro passado será de 70%. Analistas locais estimam que mais de 80% das vítimas do calote argentino optaram por aceitar a proposta do governo Néstor Kirchner.

Embora o resultado oficial só deva ser divulgado na semana que vem, nos corredores da Casa Rosada funcionários do governo aproveitaram o aniversário do presidente Kirchner, que ontem fez 55 anos, para começar a comemorar. Motivos não faltaram: além do excelente resultado obtido na operação de troca da dívida, o Indec (o IBGE argentino) informou ontem que a taxa de desemprego caiu de 14,5% para 12,1%, entre o quarto trimestre de 2004 e o mesmo período do ano anterior.

¿ O resultado vai demonstrar que teremos feito a melhor negociação da história do mundo ¿ afirmou Kirchner.

No mercado local, mais de 97% dos credores do país aderiram à oferta.

¿ Os investidores argentinos renegociaram US$23,2 bilhões ¿ disse o presidente da Caixa de Valores (órgão encarregado de processar as operações da Argentina), Luis Corsiglia.

Reestruturação pode criar precedente para emergentes

As razões do sucesso da operação, explicaram analistas argentinos, são várias.

¿ A proposta foi firme, o governo não cedeu às pressões dos credores estrangeiros, que exigiam uma melhora da oferta. Outro fator importante foi a queda dos juros internacionais que tornaram mais atraentes os papéis argentinos ¿ afirmou Roberto Frenkel, do Centro de Estudos de Estado e Sociedade (Cedes), um dos economistas mais consultados por Lavagna.

Segundo ele, a reestruturação da dívida argentina poderia ter impacto em outras economias emergentes, como o Brasil, a médio e longo prazo.

¿ Países com endividamento excessivo, como o Brasil, passarão a ser menos tolerantes em situações críticas ¿ disse Frenkel.

A oferta argentina propõe o desconto de US$60,9 bilhões do total da dívida que será reestruturada. Caso a adesão dos credores seja inferior a 70%, o governo incluirá os juros acumulados até dezembro de 2003 (US$18,2 bilhões). Neste caso, o total da dívida a ser reestruturada será de US$99,4 bilhões, entre principal e juros. Desse total, a Argentina não pagará US$60,9 bilhões. Portanto, a nova dívida do país será de US$38,5 bilhões.

Se a adesão for superior a 70%, o governo incluirá os juros acumulados até junho de 2004, e o total da dívida será de US$104 bilhões. Com o desconto de US$60,9 bilhões, a nova dívida, resultado da reestruturação, será de US$43,2 bilhões.