Título: GOVERNO AMERICANO CRITICA DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
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Fonte: O Globo, 01/03/2005, O Mundo, p. 30

As polícias civil e militar continuam torturando e executando suspeitos, enquanto a burocracia e a corrupção corroem o sistema judiciário. O trabalho escravo está florescendo tanto quanto o tráfico de crianças e mulheres com o propósito de prostituição; e os negros, assim como os homossexuais, continuam sendo discriminados. E ¿o salário mínimo nacional não proporciona um padrão de vida decente a um trabalhador e sua família.¿

Essa é a síntese da avaliação contida nas 33 páginas que o governo dos Estados Unidos dedicou ao Brasil no seu informe anual ¿Práticas de Direitos Humanos¿, referente a 2004, divulgado ontem pelo Departamento de Estado. Ao distribuí-lo, o secretário de Estado assistente para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho, Mike Kozak, disse que a situação no Brasil nada mudou em relação ao ano anterior e culpou as autoridades locais e regionais pelo quadro:

¿ O governo respeita os direitos humanos (no Brasil) mas vocês têm problemas com pobreza e, particularmente, com os governos estaduais que maltratam as pessoas. Há um impulso positivo do governo central, mas ele não tem sido capaz de fazer com que todos cumpram as suas ordens ¿ disse Kozak.

O secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, desmereceu as críticas do governo americano:

¿ A gente não recebe relatório feito por outro país, só por ONU, OEA, órgãos multilaterais ou entidades como a Anistia Internacional. Não fazemos relatório sobre a violação de direitos humanos em outros países, como nos EUA, por exemplo.

O informe, de mais de mil páginas, traz uma radiografia de 196 países ¿ com críticas mais fortes a Irã, Rússia, Coréia do Norte e Arábia Saudita ¿ mas nenhuma menção aos abusos praticados pelos militares dos EUA na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, e na base naval de Guantánamo. Como nos anos anteriores, o documento tampouco contém informações sobre abusos praticados nos EUA.

¿ Estamos preocupados com o fato de que esses informes estão perdendo o seu valor moral, dado o índice de violações dos direitos humanos que vêm acontecendo no governo Bush ¿ disse Ajamu Baraka, diretor-executivo da U.S. Human Rights Network, entidade que reúne 160 grupos de direitos humanos baseados nos EUA.

Perguntado a respeito, Kozak apresentou uma justificativa frágil aos jornalistas:

¿ Não fazemos um informe sobre nós mesmos pela mesma razão que vocês não fariam uma reportagem investigativa sobre as suas próprias finanças ou outra coisa, pois ela não teria credibilidade alguma. Outros é que precisam fazer isso.