Título: PROJETOS POLÊMICOS SERÃO LEVADOS PARA SEVERINO
Autor:
Fonte: O Globo, 27/02/2005, O País, p. 12

Católico fervoroso, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), pode se preparar para receber uma romaria em seu gabinete nas próximas semanas. Mas a peregrinação ao escritório da presidência da Câmara, que desde a eleição está mais cheio de deputados do que nunca, não é religiosa. Preocupados que as posições conservadoras e convicções religiosas do deputado possam sepultar os projetos ou jogá-los em uma das muitas gavetas do Congresso, gente de dentro e fora do governo já começou a articular para tentar incluir os projetos polêmicos na pauta da Câmara.

O projeto da biossegurança, que permite pesquisa com células-tronco de embriões, já está entre as preocupações do ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. Ele vai marcar uma audiência com o novo presidente da Câmara para tratar do assunto. E pretende também levar especialistas no tema para conversar com Severino.

¿ Vamos propor um seminário no Congresso para que sejam ouvidas todas as partes, inclusive igreja e movimentos evangélicos, para explicar os benefícios que a pesquisa pode trazer ¿ afirmou o ministro.

A proposta de emenda constitucional (PEC) que prevê a expropriação de terras onde for encontrado trabalho escravo também estaria ameaçada.

¿ No ano passado, ele (Severino) fez várias declarações e discursos no plenário a favor dos escravocratas. Vamos conversar com o presidente (da Câmara) e estamos preocupados com essa expectativa de que ele tenha uma posição desfavorável. Pediremos a inclusão do projeto na pauta da Câmara ¿ afirma o subprocurador do Trabalho e coordenador de Combate ao Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho, Luís Antonio Camargo.

Projetos terão de ser muito mais negociados agora

No Planalto, os responsáveis pela articulação política do governo acham que a lógica de debate dos projetos na Câmara vai mudar. Com um presidente afinado com o governo, o caminho dos projetos era parecido: o governo enviava a proposta, o assunto era discutido no Colégio de Líderes e levado, depois de passar pelas comissões, para votação no plenário. Com a derrota do governo na Câmara e a eleição de Severino, acreditam os articuladores do Planalto, os projetos terão de ser muito mais negociados em conversas com os líderes, inclusive antes do envio do texto ao Congresso.