Título: `NUNCA FALEI QUE SOU SANTO¿, DISSE CORRÊA A AMIGOS
Autor:
Fonte: O Globo, 27/02/2005, O País, p. 15

Denúncias contra o deputado surgiram no início dos anos 90

BRASÍLIA. O deputado Pedro Corrêa conseguiu o que parecia impossível para a maioria dos políticos atingidos por graves denúncias: recuperar o prestígio dos velhos tempos. Na comemoração em homenagem à eleição de Severino Cavalcanti, o presidente do PP foi o anfitrião numa casa de festas de Brasília. Quando avistou a chegada do deputado Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP), virou o rosto e recusou-se a cumprimentá-lo. Ele também mudou de comportamento com o Palácio do Planalto. Até então implorando por um ministério para o PP, passou a esnobar as ofertas do governo.

Não é de hoje que Corrêa aparece envolvido em esquemas suspeitos. Em desabafo com amigos sobre suas desventuras recentes, ele ironizou:

¿ Eu nunca falei que sou santo. Quero saber quem é.

Em 1992, ele foi relator da CPI da Vasp. Inocentou em seu relatório o empresário Wagner Canhedo, o ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP) e até mesmo o ex-tesoureiro de Collor Paulo César Farias, de responsabilidade pela renegociação da dívida da Vasp e pela superavaliação das garantias de Canhedo.

Em 1993, estourou um escândalo em que o então chefe de gabinete de Corrêa aparecia vendendo bilhetes de cortesia da Vasp de forma ilegal. Algumas passagens foram pedidas pelo próprio Corrêa à Vasp e tiveram autorização dada por Canhedo. Na época, o deputado acusou o assessor de estelionatário.

Deputado admitia amizade antiga com PC Farias

O próprio Corrêa admitia ser amigo de longa data de PC Farias. Nas contas telefônicas, que tiveram sigilo quebrado pela CPI do PC, havia ligações para o deputado. Em sua defesa, Corrêa argumentou ter telefonado duas ou três vezes para prestar solidariedade ao amigo.

Formado em medicina com especialização em radiologia, Corrêa entrou na vida pública como presidente do Clube Internacional, na década de 70. Conquistou o primeiro mandato em 1979, quando foi eleito deputado federal pela Arena. Em 1985, foi um dos principais cabos eleitorais de Paulo Maluf na campanha para a Presidência da República. Durante duas décadas, tornou-se um dos políticos mais próximos de Maluf. Só largou o ex-prefeito de São Paulo quando ele caiu em desgraça. Em seguida, derrotou Maluf internamente e passou a comandar o PP.

Procurado pelo GLOBO na sexta-feira, Corrêa não retornou os telefonemas.