Título: Ascensão do presidente do PP preocupa Planalto
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Fonte: O Globo, 27/02/2005, O País, p. 15

A ascensão para o primeiro escalão da política do presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), tem preocupado o Palácio do Planalto. No núcleo do governo chegou-se à conclusão de que Corrêa é o político com maior influência junto ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que também é do PP pernambucano. Tanta preocupação, explica um ministro, não é por acaso. Corrêa teria tentado até uma indicação para um ministério. E a amizade com Severino pode livrá-lo de um processo na Câmara.

Apesar de necessária, ponderam interlocutores de Lula, a aproximação com Pedro Corrêa é ruim para a imagem do governo. A resistência ao nome do deputado no Planalto tem duas origens. A primeira é seu passado conservador e malufista. Porém, o mais grave, na avaliação de integrantes do governo, é o envolvimento em escândalos recentes.

Denúncia de envolvimento com falsificadores

Em 2004, ele foi investigado pela corregedoria da Câmara após o surgimento de denúncias que o citavam como o braço político de uma das maiores quadrilhas de falsificadores de cigarros e combustíveis do país. Mas Corrêa está tranqüilo e voltou a circular com desenvoltura pelos bastidores do poder.

A decisão sobre a denúncia já foi tomada: nos próximos dias, o presidente da Câmara deve arquivar a investigação contra o correligionário Pedrinho, como Severino costuma chamá-lo. O parecer da comissão de sindicância, que ainda não foi divulgado, é pelo arquivamento. Segundo um integrante da Mesa, Severino já decidiu jogar uma pá de cal no caso.

O episódio ocorreu em 2003 e há provas contundentes. Gravações telefônicas com ordem judicial flagraram Corrêa em conversas comprometedoras com o empresário Ari Natalino, do ramo de combustíveis. Os grampos mostraram o envolvimento do deputado e de empresas de sua família com Natalino, apontado em investigações como um dos chefes da máfia de adulteração de combustíveis.

Natalino foi indiciado nas CPIs do Narcotráfico e do Roubo de Cargas. Numa das conversas gravadas, o deputado presta contas ao empresário sobre as negociações com a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Com base na investigação, o nome de Corrêa foi incluído no relatório da CPI da Pirataria, concluída em 2004. O deputado, seus filhos Fábio e Aline, e seu genro, José Antônio Neuwald, são citados como suspeitos de integrar uma rede de contrabando e falsificação de cigarros.

¿ Tínhamos elementos suficientes para enviar à Corregedoria as denúncias contra Corrêa. Os elementos eram suficientes para indiciá-lo. Fiz a minha parte. Caberia à Corregedoria fazer a dela ¿ disse o deputado Josias Quintal (PMDB-RJ), relator da CPI da Pirataria.

Na ocasião, Quintal e o presidente da CPI, Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP), foram pressionados por políticos ligados a Corrêa para excluir o nome do deputado do relatório.

¿ Houve muita pressão do PP. Até hoje, eles me olham de lado ¿ conta Medeiros.