Título: CRISE ECONÔMICA LEVA IDOSAS À PROSTITUIÇÃO
Autor:
Fonte: O Globo, 27/02/2005, O País, p. 16

A crise econômica empurra cada vez mais mulheres idosas para a prostituição e o tráfico em São Paulo. Casadas ou separadas, com ou sem filhos, senhoras de até 70 anos de idade têm dividido espaço em ruas, praças e parques com jovens prostitutas e se transformam em alvos fáceis para traficantes que buscam mulheres menos visadas pela polícia.

Em pelo menos três pontos centrais da cidade (Praça da Sé, Parque da Luz e o bairro do Brás) prostitutas sessentonas agora estão nas calçadas e vielas, os chamados paredões.

Segundo a Pastoral da Mulher Marginalizada, ligada à Arquidiocese de São Paulo, pelo menos 20% das prostitutas paulistanas têm mais de 50 anos. São mulheres que, diante da pouca oferta de trabalho, submetem-se a programas que podem chegar a R$30, mas que também tem lance inicial de R$2.

Opção de trabalho após criar filhos e netos

Sem aposentadoria ou com o marido desempregado, muitas optaram em ir para a rua depois de criar filhos e netos.

¿ Sou casada e meu marido sabe que faço programa. O que importa é que ganho mais do que ele ¿ diz Margareth, 57 anos, arrependida de ter contado aos filhos. ¿ Virei refém deles. Sempre que tem uma briga, jogam na minha cara que sou prostituta. Esquecem que só não morreram de fome porque fui à luta ¿ diz ela, uma das veteranas do Parque da Luz.

No parque não há gigolôs. Também não há cobrança e disputa por ponto, como ocorre do outro lado da rua, na estação da Luz. É na Praça da Sé, porém, que o risco de envolvimento com traficantes e viciados é mais iminente.

¿ Os traficantes sabem que elas não vão dar trabalho porque dificilmente se transformam em usuárias ¿ diz o PM Paulo Magalhães, responsável pelo patrulhamento da Praça da Sé.

¿ Os traficantes chegam a oferecer a droga de graça. Elas vendem e podem ganhar até R$300 num único dia. Uma mulher de mais de 60 anos e que fica até uma semana sem fazer programa acaba caindo em tentação ¿ diz Neide, prostituta que divide o tempo entre programas na Sé e o trabalho voluntário na ONG Mulher-Vida.

No Parque da Luz, em meio a esculturas de Brecheret e Arcângelo Ianelli, senhoras aparentemente recatadas flertam com clientela que também já alcançou a terceira idade. Vestidas em trajes discretos, com pouca maquiagem, algumas são donas-de-casas que justificam a féria diária com serviços de limpeza e faxinas.

Para não provocar constrangimento aos freqüentadores do parque obedecem a um código de conduta estabelecido pelo administrador da área, Fernando Aquino.

¿ Converso com elas e peço para que não usem roupas chamativas e que não fiquem assoviando para os clientes.

Criado em 1738, o parque é freqüentado por velhas prostitutas e velhos senhores em busca de companhia.

¿ Aqui tenho umas amigas que realmente me entendem ¿ explica seu Xavier, motorista, casado, pai de dois filhos e há 30 anos freqüentador do parque.