Título: INSUSTENTÁVEL
Autor:
Fonte: O Globo, 28/02/2005, Panorama Político, p. 2

Está ficando a cada dia mais difícil a situação do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Sua substituição é defendida sem cerimônia pelo PT e os líderes dos partidos aliados reclamam que o governo não tem um comando político definido. A manifestação reiterada dos petistas tem peso, pois coloca em dúvida a autoridade do ministro, enfraquecendo sua capacidade de articulação.

Mesmo assim, conforme um assessor próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, este não deu sinais de que vá ceder às pressões petistas. E lembrou que, se dependesse do PT, Aldo Rebelo nem teria assumido. Assumiu, contrariou o grupo do chefe da Casa Civil, José Dirceu, ao ficar contra a emenda da reeleição dos presidentes da Câmara e Senado, e agora é alvo de processo de fritura.

Para alguns aliados, diante da posição assumida pelo PT, a mudança é o caminho natural. Eles argumentam que, para garantir a reorganização da base aliada, o governo precisa de um ministro que tenha condições de falar grosso com os ministros petistas, para que estes sejam constrangidos a cumprir os acordos políticos. Avaliam que a coordenação deveria voltar para José Dirceu ou ser entregue a alguém que obedeça aos seus propósitos.

Mas outros aliados estão apreensivos com a vilania dos petistas. E vêem neste episódio uma manifestação de exclusivismo e de rejeição à formação de um governo de coalizão, no qual o PT e os partidos aliados passariam a ter projetos comuns, sobretudo tendo em vista as eleições de 2006.

¿ Esse não é o método adequado para resolver divergências com aliados históricos. Entre nós deve existir um clima de respeito. Temos muitas jornadas pela frente. O Aldo é um aliado correto, desde o primeiro momento, e não pode ser tratado como adversário, como fazem alguns petistas ¿ critica o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos.

O presidente Lula pode optar por manter Aldo no cargo, mas é pouco provável que lhe dê mais poderes. Mesmo afastado da coordenação, é pelas mãos de José Dirceu que passam todas as nomeações para os cargos federais de segundo escalão. E há o risco de se tornar ainda mais crítica a duplicidade de comando, caso o presidente nomeie o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) para a liderança do governo. Este enredo é previsível, já ocorreu na emenda da reeleição, quando José Dirceu e João Paulo criaram uma linha direta, paralela à ação de Aldo Rebelo.