Título: O POLÊMICO PORTA-VOZ DO VATICANO
Autor:
Fonte: O Globo, 28/02/2005, O Mundo, p. 17

Nos dias de incerteza em relação à saúde do Papa João Paulo II, os jornalistas em busca de notícias tentam se acostumar com as migalhas de informação fornecidas pelo espanhol Joaquín Navarro-Valls, o polêmico chefe da imprensa do Vaticano.

Todas as informações são controladas por Navarro-Valls, obrigando jornalistas e fiéis a fazer um esforço para tentar ler nas entrelinhas o real estado de saúde do Papa. O porta-voz não permite que sejam divulgados comunicados médicos diários sobre as condições de João Paulo II e as suas notas para a imprensa não são assinadas por eles.

Navarro-Valls normalmente se limita a contar algumas informações não muito relevantes sobre o dia-a-dia do Pontífice no hospital Gemelli. Na sexta-feira, por exemplo, quando se esperava ter maiores informações sobre o estado do Papa depois da realização da traqueostomia, ele ficou mais tempo descrevendo o café da manhã de João Paulo II.

A polêmica em relação a Navarro-Valls, no entanto, não é recente. Com 68 anos de idade, ele está há 20 anos acompanhando o Papa.

Navarro-Valls já descreveu encontro que jamais ocorreu

O porta-voz, nascido na cidade espanhola de Cartagena, é integrante da entidade ultraconservadora católica Opus Dei. Apesar de leigo, tem um voto de castidade. Na verdade, o papel de Navarro-Valls na Santa Sé extrapola em muito seu título de porta-voz. Atualmente tem também funções de editor, investigador, conselheiro e diplomata.

Seu primeiro encontro com João Paulo II foi em 1978, ano da eleição do Pontífice. ¿Atraiu-me muito o fato de ele ser o portador de uma mensagem nova¿, disse anos depois numa rara entrevista para o jornal italiano ¿La Repubblica¿. Depois, de forma surpreendente, recebeu um telefonema da Santa Sé. A oferta de trabalho, segundo suas próprias palavras, era para ¿reorganizar o sistema de comunicação e imprensa do Vaticano¿.

Mas as críticas vão bem além da centralização poder, pois ele é famoso por gafes e mesmo divulgação de inverdades. Certa vez, Navarro-Valls descreveu detalhes de um encontro do Papa com a guatemalteca Rigoberta Menchú no Vaticano. O problema foi que o tal encontro não havia ocorrido.

Em 1996, em viagem à Hungria, afirmou que o Papa sofria de uma ¿síndrome extrapiramidal¿ dentro de seu quadro de mal de Parkinson. Segundo fontes do Vaticano, ele chegou a ser repreendido pela declaração.

Apesar desse tipo de acontecimento ter sido freqüente, em dezembro passado o Papa concedeu a ele uma audiência privada e entregou-lhe uma carta de agradecimento por 20 anos de ¿serviços leais¿.