Título: AÇÃO CONTRA O USO DE ÁLCOOL
Autor:
Fonte: O Globo, 02/03/2005, O País, p. 3

Primeiro lugar no ranking de drogas consumidas no Brasil, as bebidas alcoólicas estão na mira do governo. O general Jorge Armando Félix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, informou ontem que ainda este ano o Palácio do Planalto vai anunciar medidas destinadas a regular o consumo de álcool. O primeiro passo para estabelecer a Política Nacional sobre o Álcool é a criação de uma câmara especial para estudar o assunto, no âmbito do Conselho Nacional Antidrogas (Conad).

¿ Governo e sociedade discutirão, sem preconceito e com embasamento científico, questões relacionadas ao abuso dessa substância. Daí surgirá a proposta de uma política pública brasileira relacionada ao álcool ¿ disse o general.

A idéia do governo é estudar, com participação direta do Ministério da Saúde, medidas para controlar a venda e a propaganda de bebidas. Por enquanto, ainda não foram revelados quais são os planos para impor as regras. Mas o general Paulo Roberto Uchôa, secretário nacional Antidrogas e responsável por coordenar os debates, mostrou-se simpático a medidas já adotadas em algumas cidades que obrigam bares a fechar mais cedo.

¿ Isso tem mostrado resultados. O índice de crimes, por exemplo, foi lá embaixo ¿ disse o secretário.

Doenças, homicídios e agressões

A tese principal para justificar o controle do consumo de álcool é a de que o exagero nas bebidas provoca desde doenças até homicídios e agressões. Levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) aponta que, ao longo dos últimos 20 anos, de todas as internações hospitalares causadas por drogas, 90% são motivadas pelo álcool.

¿ O álcool é o problema número um ¿ disse o professor Elisaldo Carlini, pesquisador do Cebrid e integrante da Junta Internacional de Fiscalização (Jife), órgão incumbido pela ONU de monitorar o cumprimento dos tratados internacionais antidrogas ao redor do mundo, que ontem apresentou um relatório sobre o uso de drogas no Brasil.

A Senad encomendou uma pesquisa que vai traçar um diagnóstico do consumo de drogas. O resultado deve ser divulgado no fim do ano. O relatório da Jife defende maior intercâmbio entre polícias e órgãos sanitários responsáveis por regular os produtos químicos usados na fabricação dos diferentes tipos de droga.

O general Uchôa anunciou que o governo planeja lançar uma campanha de conscientização contra o uso de drogas sintéticas. A campanha será voltada para o público jovem.

O relatório da Jife também faz um alerta mundial sobre a venda de remédios controlados pela internet, negócio que cresceu no ano passado. As chamadas farmácias online vendem substâncias como anfetaminas e derivados de ópio, por exemplo. A entrega é feita por correio e a idade de quem compra não passa por qualquer controle.

A Política Nacional Antidrogas do Brasil está em vigor há três anos, e passará pela primeira reforma. A previsão é de que o novo modelo seja apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 30 dias. Assim que receber o aval de Lula, entra em vigor.

A nova política incluirá medidas de redução de danos destinadas a amenizar os efeitos das drogas sobre os usuários. O general Jorge Félix não antecipa as mudanças. Diz apenas que o nome será modificado: sai Política Nacional Antidrogas, entra Política Nacional sobre Drogas.

¿ Acreditamos que com essa política, associada à lei que está no Senado para votação, teremos algumas mudanças interessantes no que diz respeito ao tratamento das drogas, tanto na repressão quanto na prevenção ¿ afirmou o ministro.